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24 agosto 2012

As heresias combatidas nas Epístolas Pastorais


INTRODUÇÃO 
Podemos observar que nas três Epístolas o escritor está muito preocupado com os hereges, sendo esse nome usado às pessoas que tentavam negociar uma mensagem notavelmente oposta ao Evangelho verdadeiro, que semeavam contendas e dissensões, e levavam vidas moralmente questionáveis. O apóstolo Paulo exortava seus amigos mais íntimos, Timóteo e Tito, a terem cuidado com esses homens.
A característica mais óbvia da heresia é sua combinação de ingredientes judaicos e gnósticos. De um lado, os que a expõem, professam ser “mestres da lei” (I Tm 1:7) dedicavam-se a disputas acerca da lei (Tt 3:9), e estavam muito ocupados com “fábulas e genealogias” (I Tm 1:4), do outro lado, não eram judaizantes do tipo que Paulo tinha de combater no seu ministério anterior, sendo a doutrina destes ascéticas, envolvendo , por exemplo, a renúncia do casamento e a abstinência de certos tipos de alimento, possivelmente também do vinho (I Tm 4:3; 5:23).
Neste trabalho iremos nos aprofundar nas heresias, no qual Paulo tentou advertir seus colaboradores, sendo-as: o gnosticismo, as fábulas, e as genealogias.
1 – Gnosticismo
Nome derivado do termo grego “gnosis”, que significa conhecimento, os gnósticos tornaram-se uma seita que defendia a posse de conhecimentos secretos que, segundo eles, tornava-os superiores aos cristãos comuns que não tinham o mesmo privilégio. O gnosticismo tornou-se uma forte influência na Igreja.
A premissa básica do gnosticismo é uma cosmovisão dualista. A partir do Supremo Deus Pai procediam sucessivos seres finitos (éons), quando um deles (Sofia) deu à luz a Demiurgo (deus criador), que criou o mundo material "mau", juntamente com todos os elementos orgânicos e inorgânicos que o constituem.
Cristãos gnósticos, como Marcião (160 d. C.) e Valentim, ensinavam que a salvação vem por meio de um desses éons, Cristo, que se dirigiu-se cauteloso através dos poderes das trevas para transmitir o conhecimento secreto (gnosis) e libertar os espíritos da luz, cativos no mundo material terreno, para conduzi-los ao mundo espiritual mais elevado. Cristo, embora parecesse ser um homem, nunca assumiu um corpo físico; portanto, não foi sujeito às fraquezas e emoções humanas. Jesus não veio em carne!
Algumas evidências sugerem que uma forma principiante de gnosticismo surgiu na era apostólica e foi o tema de várias epístolas do Novo testamento no combate a essas heresias (I João; Epístolas Pastorais). A maior polêmica contra os gnósticos apareceu, entretanto, no período patrístico, com os escritos apologéticos de Irineu (130-200), Tertuliano (160-225) e Hipólito (170-236). O Gnosticismo foi considerado um movimento herético pelos cristãos ortodoxos. Atualmente, é submetido a muita pesquisa, devido às descobertas dos textos de Nag Hammadi, em 1945/46, no Egito. Muitas seitas e grupos ocultistas demonstram alguma influência do antigo Gnosticismo.
Quase todos os gnósticos eram docéticos ou "semidocéticos". Supunham que Jesus, o Cristo, não teria corpo humano, mas tão-somente "pareceria" ser humano (do que se deriva o termo "docetismo", no grego, dokeo, "parecer"). Isso expressa o "docetismo puro", a total negação de qualquer tipo de humanidade associada à pessoa de Cristo. Todavia, a maioria dos gnósticos era "semidocética". Acreditavam na teoria da "possessão". 
2 –       Fábulas
No grego temos a palavra “muthos”, que significa “mito”, “fábulas”. Essa palavra ocorre nas Epístolas Pastorais em I Tm 1:4; I Tm 4:7; II Tm4:4 e Tt 1:14. Nos demais livros do Novo Testamento, aparece apenas em II Pd 1:16. Na septuaginta aparece em Sabedoria de Salomão 17:4 e Eclesiástico 20:19, sempre nos livros apócrifos.
Devemos observar que no trecho de Tito 1:14, é feita menção às “fábulas judaicas”, onde provavelmente Paulo se referia as histórias fabricadas, supostamente dotadas de valor religioso e espiritual, baseadas em heróis judeus da fé, como Abraão e outros patriarcas do Antigo Testamento. Sendo esse tipo de atividade bastante evidente nas várias tradições, notável nos “apocalipses judaicos”. O haggada do Talmude também ilustram histórias “inventadas”, cuja intenção era servir de instrução religiosa. O livro dos Jubileus procura reescrever a história primitiva do ponto de vista da lei, fazendo com que já fosse conhecida e praticada até mesmo entre os anjos, estando desde o começo mesmo do livro de Gênesis e fornecendo várias narrativas pertencentes a mitos. Vemos também o livro das Antiguidades Bíblicas, uma crônica lendária do Antigo Testamento atribuída a Filo, desde Adão até Saul, datado do século I da era cristã, também encerra tais fábulas. Muito provavelmente é derivada dessas lendárias do haggada, a alusão a Janes e Jambres, em II Tm 3:8.
3 –       Genealogias
A palavra grega traduzida como as “Genealogias”, fala sobre o traçado da linhagem dos antepassados, sendo usada somente em I Timóteo 1:4 e Tito 3:9. Podemos analisar que várias interpretações são possíveis fazer a respeito dessa palavra nessas referências:
A.               Poderia indicar um interesse obsessivo pelas genealogias, por razões de auto-exaltação, através de “linhagens significativas”, ou por razões religiosas. Podemos ter o exemplo dos Mórmons nos nossos dias, pois eles dão uma excessiva importância às genealogias, simplesmente porque praticam o “batismo pelos mortos”. È possível que os gnósticos também tivessem alguma crença ou prática religiosa que conferia excessiva importância às genealogias.
B.                Também é possível que o autor sagrado esteja fazendo alusão à interpretação alegórica das narrativas do Antigo Testamento. Filo e outros escritores judeus interpretavam esses registros, sendo possível que diversas fábulas se tenham vinculado a essa prática.
C.                Outros estudiosos supõem estar em foco alguma espécie de orgulho “judaico”, nos registros apropriados das linhagens dos antepassados, talvez usassem desse artifício para incitar seu orgulho racial e seu exclusivismo, mais essa interpretação não é muito provável.
D.               Outros eruditos, pensando que esta repreensão se volta puramente contra as doutrinas gnósticas distintivas, supõem que essas genealogias são especulações em que se ocupavam, com gradações intermináveis de “aeons” ou emanações angelicais de Deus.
Essa última interpretação é a mais provável de todas, Irineu e Tertuliano dão apoio a esta interpretação, já que eles mesmos tinham estado ocupados em similares especulações, entre os gnósticos.
Conclusão
Podemos concluir que as Epístolas Pastorais foram essencialmente escritas para dar combate às heresias, onde Paulo instruiu seus colaboradores para esse combate, advertindo-os para que ensinassem a igreja a não darem ouvidos a palavras enganadoras, e sim que se mantessem orando e ouvindo a palavra verdadeira que é a Palavra de Deus. 
Referências Bibliográficas
KELLY, John N.D.. I e II Timóteo e Tito: Introdução e Comentário. São Paulo: Vida Nova. 1983.
CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento Interpretado Versículo Por Versículo, Vol. 5, São Paulo: Candeia. 1995. 
 ROSEMEIRE MARIA DA SILVA GOUVEIA

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