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22 julho 2014

RESENHA – “PREGAÇÃO & PREGADORES” – D. MARTYN LLOYD-JONES

Ao término da leitura “Pregação e Pregadores” ajoelhei e supliquei a misericórdia de Deus sobre minha vida. O quão distante a igreja está do nível de pregação e estilo de Lloyd-Jones. Posso englobar “pentecostais e tradicionais”. Lloyd-Jones era de linha calvinista e por isso muita das vezes parei a leitura para pensar: “Já não se faz calvinistas como antigamente”. Quanto equilíbrio! Fervor junto da eloquência – Piedade com intelectualidade. 
Como iniciante na arte da exposição das Escrituras, tenho ainda muita dificuldade em preparar um sermão. Uma dificuldade ainda maior é de anuncia-lo de forma clara e organizada. Como esta obra me ajudou e colocou minha organização, desde o esboço, até a exposição, no prumo. Deus foi bom comigo por me apresentar esta obra. Por isso recomendo a todos e “gasto” meu tempo em escrever a respeito, encorajando aqueles que foram chamados para expor todo o “conselho de Deus” aos homens. Creio que tal obra é leitura obrigatória a todo pregador que ama a Palavra de Deus e deseja prega-la de forma fidedigna.
Preciso ser sincero quanto ao “prefácio da edição em português”. Com todo respeito ao Pr. Josafá Vasconcelos -, arrazoando seu escrito, julgo que ficou aquém do conteúdo do livro. Principalmente por chamar Charles G. Finney de pelagiano. Creio que o exagero maculou o prefácio e por isso não posso dizer que tal tem muito haver com as dicas preciosíssimas de M. Lloyd-Jones.
A obra é divida em 16 capítulos. Vou tratar objetivamente a respeito de cada um para que o leitor seja aguçado a mergulhar no estudo completo desta riquíssima obra. 

CAPÍTULO 1 – A PRIMAZIA DA PREGAÇÃO

O capítulo aborda a pregação sendo o “maior e a mais gloriosa vocação para alguém ser chamado”. Transcende o discurso metódico através de meios ou técnicas. A pregação não pode ser mecânica - nem tão pouco se trata de oratória. Pessoas previsíveis não passa confiança pela sinceridade que transmitem a Verdade de Deus. O capítulo aborda também os temas: “Grandes pregações sempre dependem de grandes temas. Grandes temas sempre produzem grandes discursos em qualquer campo; e, de fato, isto é particularmente veraz, como é óbvio, no campo da igreja”.
O Dr. afirma que a pregação não se trata de uma palestra ou ensaio. Por mais que pareça agradável a mente dos intelectuais este tipo de abordagem nas ministrações, não é para Deus, pois a pregação foi constituída para alimentar as almas e não a mente. Por conta deste método, Lloyd-Jones diz que “à medida que a pregação declina, o aconselhamento pessoal aumenta”.
O Dr. Também aborda o “evangelho social”. Trata da importância da igreja no contexto social, todavia, é necessário tomar cuidado para não transformarmos a igreja em uma ONG e a mensagem em Alto-ajuda. Lloyd-Jones diz: “A igreja não é uma organização ou instituição social, não é uma sociedade politica, não é uma sociedade cultural, é ‘coluna e baluarte da verdade’”.

CAPÍTULO 2 – NÃO HÁ SUBSTITUTOS

Não há atividade mais importante no culto do que a ministração da Palavra. Não há substitutos. O púlpito precisa estar no centro do culto e da igreja. Lloyd-Jones ratifica a importância dos que foram designados por embaixadores do Reino. Sua mensagem principal é a reconciliação de Deus com os homens. O homem é rebelde por natureza, desviado desde o ventre. O papel do embaixador é tornar-lhe isso conhecido.
Ainda que haja ajuda da psicologia e das ciências para que de algum modo posso suavizar a dor e o problemas da vida, ainda sim, o Evangelho é o único remédio eficaz, pois o levará para a eternidade. Lloyd-Jones argumenta que a pregação tem uma posição primordial, pois a verdadeira pregação aborda os problemas pessoais. Por isso ela não deve ser suprimida pelos aconselhamentos.

CAPÍTULO 3 – O SERMÃO E A PREGAÇÃO

Pregar não é debater. Ele argumenta que não podemos pregar por porfia nem tão pouco para ostentar intelectualidade. A grande maioria dos debates promove o debatedor e nunca a Cristo. Muitas das vezes Lloyd-Jones se recusou a participar de debates e acerca disso: “Debater sobre o ser de Deus de maneira casual, assentados confortavelmente em uma poltrona, fumando um cachimbo, um cigarro ou um charuto - isto é para mim algo que jamais deveríamos permitir, porque Deus, conforme venho dizendo, não é uma espécie de conceito ou X filosófico”. Ele ainda diz: “Nunca devemos nos aproximar desse tema de maneira leviana ou com mero espírito de debate; além disso, esse tema jamais deve ser considerado assunto [pregação] para entretenimento”.
A pregação não se trata de um ensaio moral ou alguma espécie sobre princípios éticos. É algo que transcende o entendimento humano. É a mensagem dada por Deus: “Antes de tudo, vos entreguei o que também recebi”. Lloyd-Jones diz que é “isso que determina a mensagem ou o sermão como tal”. D. Martyn ratifica o papel de um embaixador dizendo ser “alguém enviado para falar em lugar de outrem. Ele é o porta-voz de seu governo, de seu presidente, de seu rei ou imperador ou de qualquer outra forma de governo que, porventura, exista em seu país”.

CAPÍTULO 4 – A FORMA DO SERMÃO

O Dr. Começa propondo neste capítulo que precisamos entender a relação existente entre teologia e pregação. A pregação deve sempre ser teológica. É impossível preparar um esboço sem pensar em Deus. Até mesmo a pregação evangelística precisa ser teológica. Tudo precisa estar alinhada com a Sã doutrina para não darmos comida estragada a pessoas. Pensar em Deus, de modo simples, também é fazer teologia.
Outro ponto também que ele aborda é que muitos falam belas coisas do Evangelho; demonstram o quão maravilhoso ele é. Todavia, precisamos pregar o evangelho e não pregar a respeito do evangelho. Lloyd-Jones diz que “o evangelho é maravilhoso, é digno de elogios, mas esta não é a tarefa primordial do pregador. Ele deve apresentar, declarar o evangelho”. E de fato muitos pregadores têm caído nesta armadilha, principalmente aqueles que tende a “poetizar a mensagem bíblica”.
Um sermão não é um ensaio e nem tão pouco uma palestra. Também não é um comentário expondo o significado de um versículo. Lloyd-Jones diz que “o que faz um sermão ser um sermão é que tem forma especifica que o diferencia de tudo mais”. Ao expor as Escrituras precisamos mostrar que não estamos tratando de um assunto acadêmico ou teórico, mas de algo vital para os ouvintes e que eles ouçam com todo seu ser, e isso ajudará a vivê-los.
Mesmo sendo iniciante, nestes poucos anos de experiência, posso afirmar com certeza que, até hoje, não pude experimentar tarefa mais difícil e trabalhosa do que pregar a palavra de Deus. Ser simples sem ser simplista é o maior desafio de todo pregador diante dessa solene incumbência.

CAPÍTULO 5 – O ATO DA PREGAÇÃO

Neste capítulo do Dr. aborda aquilo que pra mim é a parte mais importante na integridade da mensagem e a qual tenho maior dificuldade: “A entrega do sermão”, ou seja, o “ato de pregar”. Sermão é aquilo que escrevemos; pregação é aquilo que falamos. Os dois precisam estar muito bem alinhados.
O pregador deve constantemente lembrar que ali ele se encontra para “declarar” a mensagem de Deus e que pelos céus foi revestido de autoridade. O pregador precisa preparar o seu sermão com toda diligencia, contudo, não deve ficar preso a ele. Precisa estar livre no sentido da inspiração do momento. Lloyd-Jones traz um fato muito importante e ao mesmo tempo interessante: “Uma das coisas mais notáveis sobre a pregação é esta: descobrimos frequentemente que as melhores coisas ditas pelo pregador são aquelas que não foram premeditadas; aquelas sobre as quais ele não havia pensado durante a preparação do sermão, mas que lhe são dadas enquanto está no processo de falar e pregar”.  
Ele aborda também a importância da pregação “fervorosa”: “O pregador jamais deve ser monótono, nunca deve ser enfadonho; ele nunca deve ser o que se chama de ‘cansativo”. Lloyd-Jones ainda diz “como pode ser monótono um homem que trata desses assuntos? Quero dizer que um ‘pregador monótono’ é uma contradição; se ele é monótono, não é um pregador. Pode subir a um púlpito e falar, mas certamente não é um pregador. Ante o grandioso tema e mensagem da Bíblia, a monotonia se torna impossível”.
Ele aborda também o amor que o pregador precisa ter para com os seus ouvintes. Trata do elemento da “empatia e emoção”, dizendo ser extremamente vital para com expositor das Escritas. Uma frase dita pelo Dr. me chamou a atenção; parece que ele estava falando a muitos pregadores atuais dos dias de hoje. Ele diz que empatia e emoção são escassas em grande parte dos irmãos reformados. Ele continua argumentando: “Somos tão eruditos, dominados profundamente a verdade, que tendemos por desprezar os sentimentos. As pessoas comuns, pensamos, são emocionais e sentimentais, mas não têm qualquer compressão”.

CAPÍTULO 6 – O PREGADOR

O Dr. Martyn Lloyd-Jones aborda este capítulo com muita propriedade, por ter ele abandonado sua carreira de médico para se dedicar em tempo integral a pregação do evangelho. Ser pregador não algo dado pelos homens. É vocação dada por Deus. O ato de pregar em uma congregação não está aberta a todo homem. Ele informa que a chamada para o ministério da pregação veem pela conscientização no espírito onde todo o assunto é dirigido para o tema da pregação.
Diz que este chamado [o de pregar] “é algo do que nos tornamos conscientes, e não algo que realizamos; é colocada sobre nós, apresentada a nós e quase que constantemente reforçada por nós”.  “A característica deste chamado é que inclui o interesse pelo próximo, a preocupação pelos outros, a percepção de que se encontram em estado e condição de perdidos, bem como o desejo de fazer algo por eles: anunciar-lhes a mensagem e apontar-lhes o caminho da salvação”.
O Sr. Spurgeon costumava dizer aos jovens: “Se vocês podem fazer outra coisa, faça-o. Se podem ficar fora do ministério, fiquem fora do ministério”. Ele disse isso porque aquele que foi realmente chamado não consegue deixar de pregar a Cristo crucificado. “O elemento principal de todo pregador é o amor a Deus, o amor às almas, o conhecimento da verdade e a habitação do Espírito Santo em nós. Estas são as coisas que constituem um pregador”, diz Lloyd-Jones.

CAPÍTULO 7 – A CONGREGAÇÃO

Este capítulo aborda a importância do pregador em conhecer os seus ouvintes. Tornou-se um grande desafio ao pregador para expor a Bíblia nos dias de hoje, já que o homem moderno não está muito disposto a ouvir longos sermões. Como disse certo escritor: “O mundo está mais carente de bons ouvintes do que de bons pregadores”.
O cuidado em pregar o evangelho ao invés de querer impressionar os intelectuais é abordado neste capítulo. O Dr. traz várias fatos e experiências ocorridas ao longo de sua vida ministerial. Ele usa as palavras de Martinho Lutero para trazer luz a este contexto: “Um pregador deve ter a habilidade de ensinar de maneira mais simples, completa e clara àqueles que não têm boa instrução; porque ensinar é mais importante do que exortar”. E ainda nas palavras de Lutero, diz: “Quando prego, não levo em conta nem doutores nem magistrados, dos quais tenho mais de quarenta na minha congregação. Toda a minha atenção está focalizada nas empregadas e nas crianças. E, se os eruditos não estão satisfeitos com o que ouvem, bem, a porta está aberta”.
D. Martyn Lloyd-jones diz que “não existe maior erro do que pensar que precisamos de um evangelho diferente para pessoas especiais”. Este é o senso que o pregador precisa ter, que “não pode haver intelectual ou não-intelectual, ou operário, ou profissional liberal, ou qualquer outro tipo de pessoa. Somos todos iguais no pecado, no fracasso, no desespero, na necessidade que todos temos do Senhor Jesus Cristo e de sua grande salvação”.
Ele aborda também da necessidade de cuidarmos do “fraco na fé”, não pisoteando sua consciência, mas antes o ajudando sem discutir assuntos controversos.

CAPÍTULO 8 – O CARÁTER DA MENSAGEM

Este é o assunto onde Lloyd-Jones trata do relacionamento entre o pregador e os seus ouvintes. A importância da transmissão da mensagem onde possa ser compreensível sem muita dificuldade. Um grande conselho é dado aos jovens pelo Dr.: “A falha principal de todo pregador jovem consiste em pregar conforme gostaria que os ouvintes fossem e não conforme eles realmente são”. Gostam de expor as biografias de santos do passado e utilizar dos ensinos dos pais da igreja e dos reformadores. O que também é muito importante. Todavia, o povo é muito mais simples do que pensamos. É preciso pregar ao coração antes de preocupar-se em pregar para a mente.
A mensagem deve ser preparada e anunciada por aquele que a sentiu primeiro. Não importa qual caráter seja. Até um sermão evangelístico, se um crente, ainda que esteja por muitos anos no evangelho, caso ouça um sermão evangelístico e não se sente emocionado ou comovido, Lloyd-Jones diz que desconfia seriamente para saber se tal realmente é um crente. A mensagem precisa queimar em nosso coração para depois queima-la o coração das pessoas.
Lloyd-Jones ainda trata do zelo intelectual exagerado: “O evangelho não visa meramente ao intelecto; e, se a nossa pregação sempre for expositiva, [somente] para a edificação e o ensino, isso produzirá membros de igreja apáticos, frios e, com frequência, insensíveis e auto-satisfeitos. Desconheço outra coisa que mais provavelmente produzirá uma congregação de fariseus”.
O Dr. também trata neste capítulo a respeito da acústica. Ele diz que mais essencial em um templo bonito é ter boas propriedades acústicas.

CAPÍTULO 9 – O PREPARO DO PREGADOR

Este é momento de estudo do “pregador”, ou seja, a “pregação”. O pregador não tem feriado nem descanso. Sua mente não tira férias. Constantemente pensamentos e dizeres das Escrituras alimentam sua mente montando por si seu próximo sermão. O pregador precisa manusear bem a Palavra da Verdade, pois o Espírito Santo lhe trará a lembrança daquilo que ele já estudou e meditou. Ele ainda diz “que há muitos perigos na vida de um ministro. Diferentemente de homens ocupados em profissões e negócios, o ministro não está necessariamente limitado a horários e outras obrigações sociais, nem a condições de seu controle”. Por isso que o pregador em tempo integral precisa redobrar o cuidado para com sua disciplina.
Ele traz alguns conselhos e sugestões para o pregador. Em como se preparar; do que lê; como lê e os horários de leituras específicas. “Em tudo isso, literamente falando, o pregador tem de lutar pela própria vida, neste sentido”, diz Jones. O pregador precisa conhecer a si mesmo e a sua estrutura física. Cada um tem sua rotina e seus horários em que se é mais produtivo.
É preciso tempo de meditação, oração e estudos [sistematizados]. Llody-Jones aconselha os pregadores que façam leituras e estudos mais complexos pela manhã, deixando o devocional e a leitura mais simples para o período da noite para relaxar e ter uma boa noite de sono.
Ele diz que o pregador jamais deve ler a Bíblia somente para achar textos o qual possa apoiar sua exposição. Antes, precisa ler a Palavra de Deus para si, para o alimento de sua alma. Uma dica valiosíssima, Lloyd-Jones nos transmite por este livro: “Quando você estiver lendo as Escrituras dessa maneira [como seu alimento] – sem importar se lê pouco ou muito – se algum versículo destacar-se, pretendendo a sua atenção e arrebatando-o, não continue lendo.  Pare imediatamente e lhe dê ouvidos. Ele estará falando com você; portanto, escute-o e fale com ele. Interrompa a leitura imediatamente e concentre-se sobre a declaração que tanto o impressionou. Continue fazendo isso até que surja o ‘esqueleto’ de um sermão. Este versículo ou declaração falou com você, sugeriu-lhe uma mensagem”.
Por fim ele nos adverte da importância em cuidar de nossa estrutura física e principalmente de nossa mente. Ele diz que “é conveniente que a mente não seja por demais estimulada e exercitada, antes de nos recolhermos ao leito, se quisermos evitar a insônia”. Adverte que o “homem que se mostra muito tenso e sobrecarrega sua mente, não demorará a cair em dificuldades. Precisamos dar alívio e repouso à mente. Entretanto, aliviar a mente não significa que você deixará de ler, e sim que lerá algo diferente”. Uma mudança de leitura é uma ótima folga para a mente.
Ele cita como Karl Barth relaxava sua mente para pregar ou escrever: pelas manhãs ele ouvia Mozart. Alguém por isso repreendeu Lloyd-Jones, creio que por não conhecer o valor da música e de como ela nos relaxa. Sua resposta foi: “Barth não buscava em Mozart pensamentos ou ideias, mas Mozart fazia algo por ele em sentido geral. Mozart o colocava em bom estado de espírito, fazendo-o sentir-se feliz em sua alma. Mozart o liberava, deixando-o à vontade para pensar os seus próprios pensamentos”.

CAPÍTULO 10 – A PREPARAÇÃO DO SERMÃO

Este capítulo aborda a diferenciação entre “pregação” e “palestras”, “ensaios” e “ensinos”. Llody-Jones endossa que o pregador deve ser espontâneo e fale o que o Espírito lhe disser. Ele apreciava em muito os catecismos, contudo, não acreditava na pregação deles. Dizia que “os catecismos foram produzidos por homens, cujo intuito era enfatizar certas coisas, em sua situação histórica peculiar, em contraposição a outros ensinos ou atitudes específicos”.
Também não gostava de pregação em séries, capitulo por capitulo. Dizia ele ser isso um “atrevimento”. Ele cita C. H. Spurgeon que “o pregador não devia pessoalmente tomar essa decisão [de antecipar o que iria pregar], e sim que devia orar, pedindo orientação e direção da parte do Espírito Santo, para em seguida submeter a Ele”. O Dr. não condenava alguém assim que o fizesse, mas não era sua prática. Ele preservava a “Liberdade do Espírito”, expressão esta citada pelo “Príncipe dos Pregadores”, C. H. Spurgeon.
Precisamos aproveitar todas as oportunidades para proclamar a Cristo, e isto em tempo e fora de tempo. A respeito da pregação engessada na liturgia ou que foi predeterminada antes do dia de transmiti-la, Lloyd-Jones diz: “se você não pode ser desviado de uma rotina mecânica por meio de um terremoto, não há esperança para você”.
Sua advertência foi também em ser fiel ao texto e ao seu sentido. Terminando o capítulo posso concluir com aquilo que o Lloyd-Jones diz: “A tarefa do pregador consiste em persuadir e ensinar as pessoas a ‘aceitarem a verdade’, afastando-as do que é falso, mas não jogando sobre elas a verdade. Assim, ele deve estar ajustando continuamente, à medida que toma consciência da mudança das condições”.  

CAPÍTULO 11 – A ESTRUTURA DO SERMÃO

Lloyd-Jones inicia o capítulo: “Havendo descoberto a mensagem e o significado principal do texto, você deve prosseguir e afirmar isto em seu contexto e aplicação atual”. Ele trata de que não há um único método para estruturar o sermão. Mais importante em estruturar um sermão é de transmiti-lo. Por isso que a estrutura é importante, não para embeleza-lo na forma literária, mas em facilitar o trabalho do pregador em aplica-lo ao coração da congregação.
Um sermão consiste de vários pensamentos dados no decorrer dos dias. Por isso é importante anotar tudo o que o ajudará a iluminar a verdade na cabeça dos ouvintes. Cada um tem seu estilo. Um gosta de escrever o sermão na íntegra. Outros preferem um esboço, elaborando os principais tópicos a ser tratado. Spurgeon era um dos que não escrevia sermões; ele somente preparava e usava um esboço.
Jonathan Edwards por muito tempo escreveu seus sermões. Depois de algum tempo, passou a rabiscar algumas poucas notas. Lloyd-Jones define “o sermão não sendo uma simples coletânea de afirmações; ele tem qualidade, forma, totalidade”. A boca fala do que está cheio o coração. O pregador deve se preparar, todavia, precisa ter equilibro na qualidade literária. Lloyd-Jones diz que “a preocupação com a forma literária, se não for algo criteriosamente disciplinado, pode conduzir facilmente a um estilo primoroso e artificial, que pode arruinar a verdadeira pregação”.  

CAPÍTULO 12 – ILUSTRAÇÕES, ELOQUÊNCIA, HUMOR.

A ilustração dentro do sermão tem o objetivo de fixar conceitos que o pregador quer transmitir a congregação. Podemos usar ilustrações baseados em textos da própria Bíblia. A Escritura é composta de poesia, histórias e narrativas, epístola e provérbios de sabedoria, nos dando assim a oportunidade de tiramos o que temos do bom tesouro. Todavia, precisamos tomar cuidado com o excesso e de como vamos utilizá-las.
Outro fator importante abordado pelo Dr. é a eloquência. Ele diz que nenhum homem deve tentar ser eloquente. “Não somos estaditas ou outros profissionais que precisam de tal técnica”. Se Deus lhe conceder tal dom, assim será e grandemente será usado por Deus. Todavia, esse não pode ser um desejo do pregador. Isso precisa vir naturalmente! Assim aconteceu com Paulo-, ele “não usava de palavras de sabedoria humana”. Mas ao expor a doutrina, de forma natural, se tornava eloquente.
O humor também ocupa um papel fundamental na pregação, principalmente para aproximar os “antipáticos” ao pregador até então odiado. Certamente com muito equilibro ele [humor] terá o seu papel fundamental no momento de transmitir a mensagem e torna-la “aceitável”.

CAPÍTULO 13 – O QUE EVITAR

Um dos pontos que me chamou a atenção neste capítulo foi de “evitar” anunciar de antemão o tema que será ministrado no culto [não em palestras ou estudos]. Particularmente tinha esse hábito, mas o Dr. me convenceu que é errado [quando constante]. Ele diz que essa situação estimula um pseudo-intelectualismo e uma tentação no ouvinte de ser seletivo em qual culto ele deve ir ou não para satisfazer e ouvir conforme a sua necessidade.
Ele também adverte acerca do formalismo. Em uma exortação, Lloyd-Jones diz “quão diferente seria o estado das nossas igrejas se todos nos mostrássemos tão preocupados em ser ortodoxos em nossas crenças como o somos em nossa conformidade com as ‘coisas a fazer’ e com as ‘coisas feitas’ nas igrejas”.
É necessário também se prevenir do profissionalismo. O profissional olha para si; o outro é apenas uma oportunidade de negócio. O pregador precisa evitar o anseio de ser reconhecido. Por isso precisamos vigiar nossos pontos fortes, naquilo que “somos bons”, para não cairmos na armadilha mortal da soberba. Loyd-Jones nos receita um grande remédio para isso: “A melhor maneira de refrear qualquer tendência ao orgulho – na pregação ou em qualquer outra coisa que possamos ser ou fazer – consiste em ler, no domingo à noite, a biografia de algum grande santo de Deus”.
Precisamos evitar o excesso de compreensão das pessoas que nos escuta. “Somente uma em cada doze pessoas de sua congregação é realmente inteligente”, diz Lloyd-Jones. Por isso devemos evitar também assuntos polêmicos. Este tipo de abordagem tem os seus lugares específicos, talvez na academia, contudo, na pregação, devemos alimentar o rebanho. Jesus morreu também pelo simples e pelo de pouca instrução. Certamente seremos cobrados por não ter dado água nem alimento aos pequeninos que ele amavelmente os salvou através da sua morte.

CAPÍTULO 14 – APELANDO POR DECISÕES

O Dr. aborda os cuidados que devemos ter na liturgia do culto. Em especifico ele trata do ministério de louvor. Como os ministros de louvor são tentados a caírem no laço de satanás, a saber, o orgulho. Não precisa muito para identificar esta verdade; olhe para o ministério de louvor e logo veras as contendas que há pelos primeiros assentos. “A música deve ser conservada no seu devido lugar. Ela é uma criada, uma serva; não lhe devemos permitir que domine ou controle as coisas, em nenhum sentido”, diz Lloyd-Jones.  
O Dr. também aborda o “apelo” feito pelo pregador ao final da mensagem, convidando o pecador para “aceitar a Cristo”. Ele não é favorável, e acerca disso diz: “Noutras palavras, a obediência não resulta de uma pressão direta sobre a vontade; é consequência de uma mente iluminada e de um coração quebrantado. Para mim, este é um ponto crucial”. De fato este é um assunto controverso entre “pentecostais” e “tradicionais”.

CAPÍTULO 15 – OS ARDIS E O ROMANCE

Neste capitulo o Dr. diz acerca dos perigos de se repetir sermões. Não é proibido, mas é perigoso. Diversos “santos” fizeram isso no decorrer da história e foram bem sucedidos ao transmitir a verdade através dos sermões de outros pregadores já consolidados. Precisamos identificar quem ouvirá para nos asseguramos que não estamos repetindo o que já dissemos as mesmas pessoas.
Outro ponto abordado neste capitulo é a “preocupação excessiva” do pregador a despeito da sua reputação. Precisamos lembrar constantemente que o “vaso é de barro”, e que por isso, se pudermos usufruir usando sermões de outras pessoas, na direção do Espírito Santo, este será muito bem-vindo e edificará os santos naquilo que pelo foi designado pela Soberania de Deus.
Não existe nada mais belo e romântico ao pregador, de subir no púlpito para entregar a mensagem de Deus. O pregador pode estar com o problema que for, e ter passado por situações adversas naquele dia-, se ele subir ao púlpito em temor e tremor, Deus renovará suas energias e de lá este sairá revigorado para enfrentar suas batalhas de uma forma mais eficaz.

CAPÍTULO 16 – DEMONSTRAÇÃO DO ESPÍRITO E DE PODER

Quando pensei que já tinha me deleitado o bastante neste banquete, eis que surge o último capítulo, o qual trouxe a mim ainda mais admiração pelos ensinos de D. Martyn Lloyd-Jones. Ele trata este capítulo sendo a parte mais importante do livro e a mais eficaz que o pregador deve possuir: “... em última análise, é o assunto mais fundamental relacionado à pregação, ou seja, a unção do Espírito Santo”. Continua ele: “A razão por que fiz isso [deixar a parte mais importante para o fim] é que acredito que, se fizermos ou tentarmos fazer primeiro tudo aquilo a que me referi, essa unção será derramada sobre nós. [...] A maneira correta de encarar a unção do Espírito é pensar nela como aquilo que vem sobre a preparação”. Ele ilustra esta verdade através de Elias o qual preparou o altar, cortou a lenha e a arrumou para que, o Senhor então, mandasse fogo e consumisse seu sacrifício endossando-o seu ministério. O mesmo se deu com Moisés, quando no fim da construção do tabernáculo tinha feito como o Senhor ordenara. A glória de Deus encheu aquele lugar.
Só estaremos aptos para a obra da pregação se de fato tivermos sido revestidos de poder que vem do alto. Não há outro método, ainda que haja muita eloquência e erudição e uma séria de informações a respeito da teologia. Todas as vezes que o Senhor mandava sua Palavra para seu povo o Espírito estava sobre este arauto. Assim aconteceu quando foi dada a revelação do Apocalipse para João: “Achei-me no Espírito, no dia do Senhor, e ouvi, por detrás de mim, grande voz”.
Um fato dito por Lloyd-Jones muito me chamou a atenção. Acerca dos dons e de sua atualidade, talvez na posição “continualista”, assim diz Lloyd-Jones:
“Esta é a evidencia e o testemunho claro e inequívoco das Escrituras no tocante à pregação. Mas é possível que a sua posição seja: “Sim, aceito essa verdade e não tenho qualquer dificuldade a esse respeito”. Mas tudo isso terminou juntamente na era apostólica e, portanto, nada tem a ver comigo”. Minha resposta é que as Escrituras tencionavam ser aplicadas a nós hoje, porque, se confinarmos todas bênçãos à era apostólica, deixaremos muito pouco para nossa época. De qualquer modo, como podemos decidir o que tencionava ser aplicado somente aquela geração e que se aplica a nós? Que critério usamos para determinar isso? Quais seriam os critérios desse discernimento? Minha opinião é que tudo isso não passa de preconceitos. As Escrituras foram escritas para nós, e sua inteireza. No novo testamento encontramos um quadro sobre a igreja; e esse quadro é relevante para igreja e todos os séculos e em todas as épocas”.
Endosso esta obra a todo pregador do Evangelho independentemente do seu tempo de caminhada e de seu “nível” de intelectualidade ou de conhecimento. Vale a pena ler o livro e, não somente isso - tê-lo de cabeceira consultando sempre para lembrar constantemente destas dicas preciosíssimas que nos ajudará na preparação do sermão e na exposição do mesmo. Segue o último parágrafo do livro:
Então, o que devemos fazer a respeito disto [ser eficaz na pregação]? Só existe uma conclusão óbvia. Busque-O [Espírito Santo]! Busque-O [Espírito Santo]! Que poderíamos fazer sem Ele? Busque-O [Espírito Santo]! Busque-O [Espírito Santo] sempre! Mas além de busca-Lo, espere-O. Você espera que aconteça algo, quando se levanta para pregar em um púlpito? Ou simplesmente diz para si mesmo: ‘Bem, preparei o meu sermão e vou apresente-lo; alguns dos ouvintes o apreciarão, outros não’. Você está esperando que o sermão se torne algo crucial e transformador na vida de alguém? Está preparando que algum dos ouvintes tenha uma experiência culminante? Esse é o alvo da pregação. Isso é o que podemos encontrar na Bíblia e na história da igreja. Busque este poder, espere a manifestação deste poder, anele por este poder; e, quando ele vier, submeta-se a Ele. Não lhe ofereça resistência. Esqueça-se completamente do seu sermão, se necessário. Permita-lhe liberar você, permita-lhe manifestar o seu poder em você e através de você. Tenho a certeza, conforme já disse várias vezes, que nada terá qualquer valor, exceto o retorno desse poder do Espírito em nossa pregação. Este poder produz a verdadeira pregação, que é a maior necessidade de todos nós hoje – mais do que nunca. Nada pode substituir este poder. Contudo, uma vez outorgado, termos um povo que anelará e será disposto a ser ensinado, instruído e guiado mais ampla e profundamente à verdade, que está ‘em Cristo Jesus’. Esta ‘unção’ é o fator supremo. Busque-a, até que a possua. Não se contente com nada menos do que isso. E prossiga até dizer: “A minha palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem persuasiva de sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder”. Ele “ainda é capaz de fazer ‘infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos’”.


“Pregue a palavra, esteja preparado a tempo e fora de tempo...”.
 – 2 Timóteo 4. 2a NVI
Soli Deo Gloria!

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Ficha técnica:

Autor: D. Martyn Lloyd-Jones
Paginas: 302
Editora: Fiel
Outubro de 2008

OBS: Todas as citações [“”] foram extraídas do próprio livro [“Pregação & Pregadores”] exceto as citações bíblicas as quais foram introduzidas pelo autor da resenha [Fabio Campos] apenas para trazer luz ao objetivo do contexto.

Fabio Campos

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