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20 novembro 2014

O PROBLEMA DO PEDESTAL

Ao ler um dos famosos periódicos que regularmente me caem às mãos, alguma coisa nas duas primeiras páginas começou a me incomodar. Não havia como escapar. Algo estava errado, mas o quê? No meio do jornal havia uma relação de igrejas e seus endereços, o que era normal. Isso nunca havia me incomodado. Por que incomodava agora?
Talvez porque eu nunca tivesse lido com muito cuidado a descrição das igrejas ali relacionadas. Eram 35 espalhadas pelas páginas à minha frente, e todas pareciam ótimas. No entanto, 33 delas tinham uma característica comum: a foto do pastor. Vinte e cinco dos anúncios usavam superlativos retumbantes para descrever as igrejas: “a maior”, “a melhor”, “a que mais cresce”. Todos os anúncios mencionavam os nomes dos pastores, no entanto só dois faziam referência a Jesus Cristo.
Deus me deu a oportunidade de passar muitas e muitas horas aconselhando pastores e suas famílias, e por esta razão tenho uma preocupação imensa por eles. Estou convencido de que muitos pastores hoje estão enfrentando problemas não por causa de fatores externos, mas como resultado dos “prazeres que militam” em sua própria carne (Tiago 4.1).
Ao tentar compreender esta situação, descobri oito problemas específicos na raiz da fraqueza espiritual minha e de outros pastores, meus irmãos. Precisamos ser realistas — todos nós temos problemas. Negá-los apenas aumenta a extensão de nossas dificuldades.
O Problema do Pedestal
Este problema começa no exterior, e alcança o interior quando os membros de nossas igrejas nos colocam num pedestal. Protestamos de início, mas gradualmente nos acostumamos com o pedestal e nos sentimos confortáveis lá. Aos poucos, a posição alcançada se torna mais importante que ser honestos conosco mesmos e com os outros. O mal estar por causa do que está acontecendo em nosso interior aumenta, mas não ousamos admiti-lo porque não desejamos ferir ninguém nem “a causa do evangelho”. Se formos honestos com nossos sentimentos, perderemos o respeito dos diáconos ou da igreja. Com medo de reconhecer a realidade e o poder do inimigo dentro de nós, continuamos no pedestal até sermos descobertos. Aí então, infelizmente, desmoronamos.
O Problema do Poder
Os pastores exercem muito poder. Como acontece com os corretores de ações, quando os pastores falam, as pessoas ouvem. Alguns ministros do evangelho confundem poder com autoridade. Os pastores devem ser respeitados como ungidos de Deus, mas se confundirmos poder com autoridade, vamos nos tornar autoritários. Entendemos que qualquer pergunta sobre nossos métodos de agir é um desafio à nossa posição. Levamos para o lado pessoal qualquer voto contrário numa assembléia de negócios. Pressupomos que questionar nossos sermões é questionar a Bíblia. Em nossa opinião, questionamento é sinônimo de criticismo, e criticismo causa divisão; portanto, não deve ser tolerado. Nosso estilo de liderança torna-se autocrático.
Ouvi um renomado pastor gabar-se de que em 27 anos de pastorado não tinha permitido, nenhuma vez, que os diáconos votassem em qualquer assunto. Esse tipo de poder é desconhecido no Novo Testamento. Essa falta de cooperação em grupo transforma diretorias e igreja em rivais, e quase sempre causa divisões.
O abuso do poder também pode levar à negação dos problemas. Se não nos sentimos bem sobre nós mesmos, passamos a criticar os outros ou a nos enfurecer contra eles. Isto se torna evidente em nossas mensagens. Se alguém insinuar que nossos sermões são “muito pesados”, afirmamos orgulhosamente e com convicão que estamos simplesmente “combatendo o pecado”. Assim, quem reclamou tem um problema em relação à Bíblia, e nós nos sentimos vingados.
Nem todo sermão “pesado” é motivado pelo poder; alguns são motivados pela culpa. Conheço um pastor que estava sempre pregando contra a imoralidade. Ele se tornou excessivamente zangado e hostil em suas mensagens, e assegurou que odiava o pecado e o Diabo. Na verdade, ele próprio estava vivendo na imoralidade. À medida que sua culpa aumentava, aumentava também o “poder” de suas pregações.
O Problema da Pressão do Grupo
Não são apenas os adolescentes que sofrem a pressão dos amigos; ela é especialmente aguda entre os pastores. Se nossa igreja dobra de tamanho, sentimos urgência em contar aos colegas.
Certa vez liderei um grupo de terapia para pastores. Éramos mais ou menos dez, sentados em círculo; pedi que todos se apresentassem e falassem um pouco sobre seus ministérios. Logo me arrependi de ter feito isso. O primeiro pastor, todo exuberante, contou como sua igreja havia crescido. O segundo, não querendo ficar por baixo, discorreu sobre seu ministério no rádio e sobre as milhares de cartas que recebia por causa dele. O terceiro enalteceu o programa de construção; e a coisa foi por aí adiante.
Meio de fora do círculo, percebi que um dos pastores se retorcia mais e mais à medida que sua vez de falar se aproximava. Quando isso aconteceu, ele e sua cadeira estavam quase fora da sala. O pastor olhou para baixo, e o silêncio tomou conta do recinto enquanto todos esperavam que ele falasse. “Estou no lugar errado”, soluçou. “Minha igreja está uma bagunça. Eu e minha esposa não nos damos bem. Sinto-me um trapo. Estou pensando em deixar o ministério. Certamente meu lugar não é aqui unto de vocês. Vim em busca de ajuda. Estou no grupo errado.” Ele baixou a cabeça e chorou baixinho.
O silêncio constrangedor foi quebrado quando um dos pastores que havia se vangloriado do crescimento de sua igreja admitiu que também tinha problemas, e precisava de ajuda. O pastor do rádio disse que passava muito tempo longe dos filhos, e que isso estava causando problemas no lar. Aos poucos, uma calma atitude de honestidade tomou conta da sala. Aquela foi uma das melhores experiências de aconselhamento em grupo que já tive, e tudo porque um pastor decidiu ser honesto.
Em vez de os pastores serem honestos e pedirem ajuda, parece que preferem se vangloriar na frente dos colegas, e ultrapassar os feitos uns dos outros. Estaríamos dando um grande exemplo às nossas igrejas se, como pastores, ajudássemos e apoiássemos uns aos outros.
O Problema da Paranóia 
Este problema é similar ao experimentado por Elias. Depois de fugir da ira de Jezabel, o profeta, desesperançado, declarou a Deus: “Sou o único que restou”. No problema únicos que se mantêm fiéis a Deus. Nossa igreja é a única igreja “boa” da cidade. Essa atitude leva a um isolacionismo enorme, disfarçado, algumas vezes, sob o véu do separatismo. Porque somos os únicos fiéis, estamos, de certo modo, acima do bem e do mal. Alguns pastores envolvidos em pecado me disseram que Deus os mantinha no ministério porque eram os únicos da cidade que estavam pregando a Palavra de verdade. Essa atitude conduz à arrogância e à falta de necessidade de prestar contas a quem quer que seja — incluindo Deus.
O Problema do Pináculo
O relato sobre a tentação de Cristo fala sobre este problema. Satanás levou Jesus ao pináculo do templo e o tentou a jogar-se de lá, afirmando que as Escrituras declaravam que nenhum mal lhe aconteceria porque os anjos cuidariam dele. Muitos de nós acreditamos que temos o mesmo tipo de proteção de Deus; assim sendo, jamais cairemos em pecado.
É extremamente perigoso acreditar que estamos imunes à queda. Somos todos fracos, e precisamos pedir constantemente a Deus que nos dê força para vencer os ataques de Satanás. Quando morei na África, ouvia sempre a seguinte expressão: “É pela rachadura da parede que a lagartixa entra”. O mesmo se aplica ao nosso viver; é nas áreas mais fracas que Satanás nos tenta.
O Problema Da Propriedade Individual
Incorremos neste problema quando fundimos nossa identidade e nosso ministério. O trabalho se torna uma extensão de nós mesmos, e vemos o ministério como uma propriedade nossa. A igreja é “minha” igreja. Os diáconos são “meus” diáconos. Esta fusão de ministério e ministro pode se tornar perigosa de várias maneiras. Primeira, qualquer crítica ao ministério pode ser entendida como crítica ao ministro. Se alguém criticar nossa mensagem estará nos criticando. Qualquer sugestão para mudanças de métodos significa crítica aos nossos métodos.
Considerar o ministério como propriedade particular também pode inflar a idéia que fazemos de nossa própria importância. Aconselhei um pastor que havia abandonado a igreja que havia fundado; o homem estava muito zangado porque a igreja não se desmoronara sem ele. Seu erro foi não reconhecer que o ministério alicerçado em Cristo vai continuar prosperando mesmo depois que o fundador ou pastor tiver ido embora.
Talvez o maior perigo deste problema seja a porta que ele nos abre para que vejamos nós mesmos, e não Jesus, como o líder do ministério. Este é um negócio muito sutil; algo que a maioria dos pregadores negaria imediatamente. No entanto, já vi isso acontecer muitas vezes. O pastor-proprietário se vê como a força que impulsiona o ministério. Se for questionado ou criticado, ameaça demitir-se. Devemos cuidar para que Cristo seja a cabeça de nossa igreja, tanto na teoria quanto na prática.
O Problema da Comprovação Bíblica das Preferências
Este problema lida com a natureza dedutiva da pregação; usamos a Bíblia para provar nosso ponto de vista. Isso resulta na prática perigosa da “eisegesis” (que significa forçar a Bíblia a ensinar o que acredito) em oposição à exegese, que é a interpretação dos ensinos contidos na Bíblia. A pregação expositória precisa levar em consideração os significados gramatical, histórico e contextual da passagem bíblica. Quando nos preparamos apressadamente, e de modo deficiente, nos expomos aos perigos da validação de nossas idéias. 
Ficamos bastante inclinados às preferências individuais obscuras em relação à autoridade das Escrituras. Não acho errado compartilhar gostos pessoais do púlpito, mas acredito que devemos esclarecer que são exatamente isso; pessoais. A pregação indutiva idônea nos mantém atentos e fiéis.
O Problema do Orgulho
Este problema sumariza todos os outros já discutidos. Tenho observado uma sensação de real auto-satisfação e orgulho entre os pastores. Somos bastante condicionados a obter resultados; facilmente medimos nosso valor pelo tamanho de nossas igrejas ou pelo número de pessoas que ganhamos para Cristo, e não pelo valor que temos nele. O orgulho é muito traiçoeiro.
Um notório evangelista pregou uma mensagem de salvação em uma igreja onde, supostamente, todos os presentes já eram convertidos. Após o sermão, o pregador iniciou o apelo, mas como ninguém se decidia ele foi ficando cada vez mais nervoso. O evangelista saiu do púlpito, sacudiu o dedo para a congregação e explodiu: “Já preguei este sermão 499 vezes e sempre alguém aceitou a Cristo!”. Ele informou aos ouvintes que aquela igreja havia arruinado seu recorde, e foi embora muito zangado.
Nós, os pastores, precisamos focalizar a lente da atenção pessoal em Cristo, não em nós mesmos. Estou fazendo uma convocação para uma renovação radical do serviço a Cristo. Se não nos comprometermos a fazer de Jesus o Senhor e a Cabeça de nossas igrejas então, verdadeiramente, nossos movimentos precisarão de muita renovação. Somos servos, Ele é o Senhor. Precisamos tirar a ênfase dos homens e colocá-la no Salvador.
Philip R. Stover
(Fundamentalist Journal — Pulpit Helps)

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