Faça-nos uma Visita

Faça-nos uma Visita

Como Chegar?

18 março 2014

Tendências religiosas em nossos dias

A nomenclatura em voga é Ciência da Religião. A preocupação principal se resume em dois pontos: O primeiro, qual seria a terminologia adequada - Ciência da religião, ciências da religião ou ciências das religiões? O que não é simplesmente uma questão de título, mas sim de delimitação do campo (prefiro Ciência da religiosidade). O segundo ponto é em não abrir espaço para a velha teologia confessional mascarada, ou maquiada como ciência. Isto porque ciência da religião é o estudo das hierofonias, ou seja, o sagrado em suas múltiplas manifestações. Este sagrado é um elemento estrutural da consciência e não uma fase da história dessa consciência. Nos mais arcaicos níveis de cultura, viver como ser humano é em si um ato religioso, pois a alimentação, a vida sexual e o trabalho têm um valor sacramental. Por outras palavras: ser - ou, antes, tornar-se - um homem significa ser ‘religioso’” (ELIADE, M. Tratado de História das Religiões. São Paulo: Martins Fontes, 1998, p. 7) . O Brasil, pela peculiaridade de suas crenças, de seu universo mítico-religioso, é um celeiro para estudiosos que querem se dedicar a pesquisas do fenômeno religioso.

Todas as escolas que hoje oferecem Ciência da Religião como disciplina, seguiram a trajetória que teve como ponto de partida um departamento de clérigos (mesmo em universidade pública) e uniconfessional, para, em seguida, passar por um processo de desclericalização e descatolização ou desprotestização; alcançando atualmente a fase da desmasculinização. Todo este processo revela que vivemos não só um tempo de mudança, mas de mudança de tempo. E este tempo é fortemente marcado pelo pluralismo religioso. O que indica a volta do sagrado, porém numa nova roupagem, mais livre, solta, móvel, sem residência fixa [em sua visão], na realidade sem referencial [em minha visão].

Para muitos, a teologia acorda de seu sono dogmático, deitada há séculos, para se deixar ser interpelada pelo surto do sagrado, sendo obrigada a repensar sua linguagem para falar a um mundo plural. Assim, a teologia necessita renovar-se frente ao novo paradigma do pluralismo religioso. Devendo se enveredar pelo caminho da hermenêutica da vida humana, isto é, uma teologia do sentido ou do significado. Fazendo do teólogo um mero caçador de sentido.

Ciência da religião, diferentemente da teologia, não se debruça sobre o dado revelado, mas sobre o fenômeno religioso. Não traz uma abordagem confessional do fenômeno, mas uma abordagem fenomenológica. Para os novos orientadores religiosos, passamos do diálogo das culturas para o diálogo das religiões. Isso implica em abandonar um paradigma exclusivista para adotar um novo paradigma pluralista, isto é, deixar de ser Igreja detentora da verdade para encontrar-se com as diversas religiões, enriquecendo-se com as mais diferentes formas de expressão do sagrado.

Esta linha de compreensão, e imposição, sobre o ensino religioso revela a essência da religiosidade de nosso tempo: alvo e método; aonde se quer chegar e como chegar. Simplificando, vivemos imprensados por uma disposição em aniquilar com a verdade, abrindo espaço para as verdades, mesmo que incoerentes. O inimigo comum não é a(s) inverdade(s), mas sim a verdade única, absoluta, asfixiadora dos prismas particulares, das diversas intenções acadêmicas, políticas, econômicas e espirituais.

Tudo isso forma uma atmosfera facilitadora para novas tendências; que, em muito, são velhas tendências em novas roupagens; agora, mais corajosa em se expor, devido à atmosfera atual, como o Teísmo aberto: a ideologia mais coerente da escola mais incoerente da teologia – o arminianismo; que tenta, assim, construir coerência para a incoerência.

Todas as tendências tornam-se possíveis pelo fato do foco estar não no âmago do conhecimento crido, ensinado e defendido; mas sim na possibilidade de se crer em qualquer coisa, por mais absurda que seja. A beleza a ser entendida e conservada que, segundo eles, é suficiente para a manutenção da crença está no religioso; no produto final da crença naquele que a exerce. Assim, não importa a religião; ou mesmo o conteúdo desta (sua teologia); mas a liberdade do exercício em se crer. Isso revela a cicatriz que a Igreja deixou nas sociedades no decorrer de sua história pré-moderna. Há um pavor de religião institucionalizada, mas uma paixão sobre a religiosidade individual. Seria uma forma distorcida de se aplicar o verso: “Tudo é possível ao que crê” (Marcos 9.23b).

Ódio, medo, aversão, são alguns dos sentimentos mais comuns entre os estudiosos para com a Igreja, como maior representante histórica da religião institucionalizada. É importantíssimo que os teólogos cristãos de nossos dias conheçam a história, assim como seus resultados, incluindo a época em que vivemos, para, então, serem corretos em seu proceder no educar a igreja, no formar novos líderes, e no defender a fé.

Wagner Amaral

Nenhum comentário:

Postar um comentário