1.
INTRODUÇÃO.
Ao se abordar o assunto casamento, é evidente que
vários temas surgem concernentes a esse respeito, mas ao querer determiná-lo
não há genericamente um consenso. Na sua grande maioria, o meio cristão é
unânime ao determinar que o casamento evidencia-se quando duas pessoas se unem
e formalizam essa união no Cartório Civil.
Por isso, alguns usam a expressão: “deve ser de papel passado”,
significando que o verdadeiro casamento é através do documento expedido pelos
cartórios.
Mas, a cada dia que passa, a sociedade está mudando, seus
pensamentos de outrora não são mais os mesmos de hoje. No passado, observa-se que não era realizado
o matrimônio como é visto hoje. As
celebrações eram realizadas através da Igreja Católica, e não havia a necessidade
de se casar no civil. No período do
Brasil colônia, por exemplo, não existia a lei que estabelecia o Casamento
Civil. A união de certa forma era um
ritual, para declarar perante a sociedade, que ali estava sendo formada uma
família.
Como então se pode determinar se uma pessoa é casada
ou não, já que com o passar do tempo os homens mudam seus pensamentos? A questão primordial é saber o que Deus
define para que uma pessoa seja casada ou não.
Ao longo dos anos as igrejas apresentam um pensamento unânime a respeito
deste assunto (o casamento deve ser civil), com poucas divergências, talvez
porque nesta área existe pouco ou nenhum material específico tratando do mesmo.
A necessidade e o interesse em abordar este assunto surgiram
devido à situação de que alguns casais pertencentes à igreja da qual somos
membros viviam juntos, mas não estavam devidamente regularizados com as
autoridades. Sendo que, quando os
envolvidos são pessoas que acabaram de se converter ou se apenas o homem que se
converteu, é muito fácil de ser resolvida esta situação, porem o mais complicado
é quando apenas a mulher é convertida. O
que fazer neste caso? Mulheres que possuem um relacionamento formado, bem
estruturado, com filhos, e olhando para seus “maridos”, são pessoas excelentes
que tratam muito bem suas “esposas” e seus filhos, mas não são casados
civilmente. A mulher tem o desejo de se
casar no cartório, só que seu “esposo” não quer, alega que isso é irrelevante
por estarem juntos há tantos anos e já terem filhos (que em sua maioria já são
crescidos), então, indagam: para que se casar agora?
Por isso surgem algumas perguntas: (1) o que fazer
nestes casos que as mulheres querem casar, mas seus “maridos” não? (2)
Tratá-los como muitos tratam (o qual é o modo mais fácil)? (3) deixá-las como
uma visitante vitalícia que não podem assumir funções dentro da igreja? ou (4)
procurar fazer de um modo mais difícil e complicado? – Dentro do discipulado
instruir não só as irmãs, mas também tentar instruir seus “cônjuges” para sua
conversão ou pelo menos seu convencimento de se casar.
Outras perguntas que muitos deveriam fazer: (5) Qual é
o modo bíblico de tratar estes casos? (6) Por que hoje pastores deixam estas mulheres
sem comunhão com a igreja? Impedindo-as de participar de departamentos e cargos
na igreja por não poderem tornar-se membros dela.
O passar dos anos a sociedade vem mudando
gradativamente sua forma de vida. No
passado, muitos tinham um estilo de viver totalmente diferente do que é visto atualmente. Estas diferenças são motivadas com o transcorrer
do tempo. A mudança se deve grandemente
pela própria sociedade, quando há um desenvolvimento transformando a maneira de
pensar, isso em respeito a vários assuntos, trazendo consigo grandes mudanças.
Foram feitas descobertas no passado que transformaram
o pensamento da atualidade, onde muitos não tinham um conhecimento correto e
julgavam por certo aquilo que eles criam, e com o surgimento de novos fatos
(como por exemplo; descobertas arqueológicas), puderam ver que não eram como
pensavam. Isso fez com que eles mudassem
seus conceitos acerca de muitas coisas. A Teologia é uma delas, onde através de um
estudo aprofundado das Escrituras, houve o desenvolvimento de um sistema
proposto para organizar de modo lógico as doutrinas e com eles a melhor
compreensão.
Hoje, a questão não é uma descoberta de uma nova
doutrina, mas compreender como Deus que realmente uma pessoa é casada. Quais devem ser os aspectos básicos para que
saibam que elas estão biblicamente casadas.
Quando se olha para o casamento, não é diferente,
pessoas também no passado verificavam de uma maneira, e hoje olham de outra
forma. Será que aos olhos de Deus o
casamento mudou? Ou será que com o passar do tempo Ele mudou os princípios que
regem o casamento? Ou ainda continua a mesma coisa? É claro que Deus não mudou
e nem os seus princípios para o casamento mudaram, Ele continua o mesmo, por
que nEle “não há mudança nem sombra de variação” (Tiago 1:17), e que desde o
princípio Deus permanece com o mesmo propósito para o homem hoje. Que ele deixe
“seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne.”
(Gênesis 2:24). Um homem quando se casa
com uma mulher, literalmente ele está colando a ela ou grudando nela. Este é o sentido da palavra “e apegar-se ‘וְדָבַק’”. O homem está ligado à sua esposa, porém nos
anos mais recentes esta afirmação vem mudando, no que se refere a perspectiva
do que é está casado.
Neste trabalho, o objetivo não é defender que as
pessoas se tornem membros de uma igreja dando a justificativa de ser uma
família, no entanto, permanecendo em um estado que na sociedade não estabelece
como legal. A membresia de uma igreja
não só envolve isto, sabe-se que todas as pessoas estão debaixo das autoridades
que o próprio Deus estabeleceu para governá-las: “Obedecei aos vossos guias e
sede submissos para com eles; pois velam por vossa alma, como quem deve prestar
contas, para que façam isto com alegria e não gemendo; porque isto não
aproveita a vós outros” (Hebreus 13:17).
A questão é estabelecer princípios que vão dizer o que é realmente o
casamento aos olhos de Deus.
Sabe-se que as leis são muito voláteis, como no
passado não havia uma lei que determinasse o casamento e hoje já existe, o que
não impede de que a lei deixe de existir ou mude de uma forma que fique
anti-bíblica, isto é, elas sempre podem mudar e então como agir com estas
variações? Na atualidade há aquelas uniões que muitos chamam de amasiados ou
uma união estável. Hoje, este tipo de relação
é considerado como pecado e amanhã caso a lei mude deixará de ser? A
preocupação não é ver o que as leis dizem, mas o que a Palavra de Deus mostra
sobre esse assunto!
A finalidade deste trabalho é mencionar biblicamente
como Deus conceitua e determina que seja o casamento, tendo em vista uma
definição bíblica, dentro das regras hermenêuticas e assim facilitar os
pastores a tratar essa problemática dentro de suas respectivas igrejas com
novos crentes em situações irregulares perante Deus e os homens.
2.
O CASAMENTO NO VELHO TESTAMENTO.
2.1.
ORIGEM DO CASAMENTO.
Quando se fala em casamento,
deve-se sempre olhar para o passado e contemplar as maravilhas que Deus fez no
princípio de todas as coisas. No início
o homem de certa maneira era solitário, porque Deus o criara só naquele
momento, o Senhor ainda não tinha criado uma companheira para ele. Como Gênesis 2 mesmo menciona, a mulher foi
feita por Ele para ser a ajudante idônea do homem, ou seja, uma companheira
perfeita.
Ao olhar o homem incapaz
de conseguir uma companheira, dar-se a entender que O Senhor deixou que Adão sentisse
a necessidade de uma auxiliadora, para que experimentasse a dependência de
Deus, e também provasse o poder de Deus para suprir qualquer uma de suas
necessidades, independente do que fosse.
Por isso Deus disse “Não
é bom que o homem esteja só: far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idônea.” (Gênesis 2.18), para que fosse uma
companheira para o homem. Criando a
mulher a partir de uma de suas costelas e entregando-a ao homem para que lhe
fosse sua mulher (Gênesis
2.22).
Então, depois que Deus colocou a mulher perante Adão e ele mesmo disse
que ela seria “afinal, é osso dos meus ossos e carne da minha carne;
chamar-se-á varoa, porquanto do varão foi tomada” (Gênesis 2.23), e é aqui
neste contexto que se origina o casamento, quando Deus faz o homem sentir a
necessidade de uma auxiliadora, isto após ter visto tantos animais junto com
seu par, e ele não tinha uma companheira (Gênesis 2.20).
Nota-se que “Adão cumpriu bem a sua tarefa, aplicando seu notável
conhecimento. Mas, enquanto ele ia dando nome aos animais, que passavam aos
pares, não aparecia nenhuma companheira para ele. Ele percebeu isso; Deus já
sabia de fato” (CHAMPLIN, 2001, p. 28, v. 1). O Senhor sendo soberano e
conhecedor de todas as coisas, já possuía o conhecimento disto, mas Deus queria
que Adão conhecesse e que ficasse em Sua dependência.
A partir daqui surge o primeiro casamento, onde foi realizado pelo
próprio Deus. Nas palavras do Pastor
Damy Ferreira em um de seus artigos, ele menciona o seguinte:
O que temos no Gênesis a respeito do primeiro casamento é algo de mais
elevado. Deus instituiu o casamento e
realizou, pessoalmente, a primeira cerimônia.
Como não havia ainda sociedade além de Adão e Eva, o fator civil era
desnecessário. Mesmo assim, o ato foi
público, isto é, aberto. Depois que o
homem se afastou do Éden e da presença de Deus, o casamento, bem assim outros
valores do ser humano, retrocederam e tiveram que recomeçar por sua própria
conta. (FERREIRA, 2009)
O casamento sempre esteve na mente de Deus, onde Ele “não queria
que o homem vivesse só, por isso criou para o homem uma auxiliadora que lhe
fosse idônea (Gn 2.18). O matrimônio é a primeira instituição criada por Deus,
uma ordem estabelecida no paraíso (Gn 2.18-25).” (REFLER, 1992, p. 147). É de grande importância saber
que o matrimônio sempre esteve nos planos de Deus.
Quando Deus estabeleceu o casamento, não havia um instrumento civil para
sua celebração, mas nota-se que as pessoas da trindade foram testemunhas para
sua confirmação. Através da passagem de
Gênesis capítulo 2, nota-se que há evidências de certo tipo de desenvolvimento
do casamento apesar de serem sem padrões exclusivos claros (TENNEY,
2008, v. 1).
2.2.
SUBMISSÃO AOS RESPONSÁVEIS.
Em todo o registro bíblico não há uma passagem mostrando em detalhes
como era realizado o casamento. Mas “Ao
que parece, rapazes e moças se casavam muito jovens. Posteriormente, os rabinos
fixaram a idade mínima para o casamento: doze anos para meninas e treze anos
para os meninos.” (TENNEY, 2008, p. 980, v. 1).
Apesar desta dificuldade pode ser visto alguns aspectos que viabilizam a
compreensão de como se iniciou o enlace nupcial: Eram os pais responsáveis para
arranjar o casamento dos filhos, um exemplo disto é visto em Gênesis 24 quando
Abrão mandou seu servo buscar a Rebeca na casa do seu parente para casar com
seu filho Isaque. Há também uma referência
em Juízes 14.1-4 que diz:
Desceu Sansão a Timna; vendo em Timna uma das filhas dos filisteus,
subiu, e declarou-o a seu pai e a sua mãe, e disse: Vi uma mulher em Timna, das
filhas dos filisteus; tomai-ma, pois, por esposa. Porém seu pai e sua mãe lhe disseram: Não há,
porventura, mulher entre as filhas de teus irmãos ou entre todo o meu povo,
para que vás tomar esposa dos filisteus, daqueles incircuncisos? Disse Sansão a
seu pai: Toma-me esta, porque só desta me agrado. Mas seu pai e sua mãe não sabiam que isto
vinha do SENHOR, pois este procurava ocasião contra os filisteus; porquanto,
naquele tempo, os filisteus dominavam sobre Israel.
Embora Sansão tivesse sido atraído pela jovem Timna, chegando a pedir ao
seu pai que a tomasse como esposa, ele submeteu-se a decisão de seu pai que
tinha outros planos para ele. (DOUGLAS, 1995)
Como de costume do povo israelense naquela época, o filho não podia
“fazer os arranjos para o seu próprio casamento.” (CHAMPLIN, 2001, p.
1057, v. 2.), sendo a decisão final dos pais
para o arranje do matrimônio, os filhos não podiam intervir de forma nenhuma
nos preparativos.
Normalmente, os jovens não eram consultados para saber a sua opinião,
para ver se era de sua vontade casar com a mulher (ou com um homem) que seus
pais tinham escolhido para ele (VAUX, 2002.). A escolha
da pessoa que iria se casar e com quem ela se casaria, não estava
intrinsecamente ligada aos pais, mas também naqueles que estavam como
responsáveis por aquela pessoa. Este
aspecto é visto no caso da irmã de Tafnes, a mulher do faraó; este a deu para
Hadade, o edomita conforme é descrito em 1 Reis.
Achou Hadade grande mercê por parte de Faraó, tanta que este lhe deu por
mulher a irmã de sua própria mulher, a irmã de Tafnes, a rainha. A irmã de
Tafnes deu-lhe à luz seu filho Genubate, o qual Tafnes criou na casa de Faraó,
onde Genubate ficou entre os filhos de Faraó. (1 Reis 11.19-20)
Para os responsáveis, na
sua grande maioria, não se importava com os sentimentos dos seus filhos, pois
acreditavam que o amor vinha com o tempo. Coleman menciona isto em seu manual
de costumes bíblico, ele diz o seguinte:
A idéia [sic] do casamento arranjado não era
descartava o amor. Esperava-se que os jovens viessem a se amar depois que o
casamento fosse consumado, já que se via o amor como uma questão de decisão
pessoal, e portanto como algo que dependia apenas da vontade de cada um. Depois
que os jovens se casassem, surgiria o amor.
(COLEMAN, 1991, p. 105)
Apesar de que os pais tinham toda autonomia de escolha das futuras
noras, não significa que os filhos ficassem neutros, eles podiam pedir para
seus pais uma determinada mulher como esposa.
Caso ela fosse do agrado de seu pai, ele iria atender o seu pedido,
senão, era negado. Mas ainda havia caso
que o jovem “podia tomar sua própria decisão sem consultar os pais. Podia fazer
sua escolha mesmo contra a vontade deles”.
(TENNEY, 2008, p. 980, v. 1)
Outro evento que pode ser notado, é que geralmente os enlaces matrimoniais
eram realizados com membros da mesma família, como é descrito o caso de Isaque
onde Abraão enviou o servo mais velho da sua casa, mandando-o a casa de seu tio
para buscar uma mulher dentro da casa de sua família, para ser esposa de seu
filho.
Disse Abraão ao seu
mais antigo servo da casa, que governava tudo o que possuía: Põe a mão por
baixo da minha coxa, para que eu te faça jurar pelo SENHOR, Deus do céu e da
terra, que não tomarás esposa para meu filho das filhas dos cananeus, entre os
quais habito; mas irás à minha parentela e daí tomarás esposa para Isaque, meu
filho. (Gênesis
24.2-4)
O servo de Abraão foi fiel ao seu senhor, e cumpriu com seu pedido, pois
é visto que “Considerava
ele ainda, quando saiu Rebeca, filha de Betuel, filho de Milca, mulher de Naor,
irmão de Abraão, trazendo um cântaro ao ombro” (Gênesis 24.15), onde é conhecido que ela era prima de Isaque.
Abraão não queria que seu filho se contaminasse com a idolatria de
outros povos, temendo que ele pudesse deixar de adorar o único que é digno de
toda a honra e louvor, que é o nosso Deus.
Isso não era apenas uma preocupação de Abraão para com seu filho, é
visto que o próprio Deus deixou advertido em várias passagens que uma pessoa
que faz parte do povo de Deus só poderia casar com outra pessoa que pertencesse
também ao seu povo. Deus não permite uma
união com povo que não é Seu, isto ele sempre enfatizou como é visto em
Deuteronômio.
...nem contrairás matrimônio com os filhos dessas nações; não darás tuas
filhas a seus filhos, nem tomarás suas filhas para teus filhos; pois elas
fariam desviar teus filhos de mim, para que servissem a outros deuses; e a ira
do SENHOR se acenderia contra vós outros e depressa vos destruiria.
(Deuteronômio 7.3-4)
2.3.
A PROIBIÇÃO DA UNIÃO COM OUTROS POVOS.
Deus sempre proibiu uma união que não fosse entre o seu povo como diz
Deuteronômio: “nem contrairás matrimônio com os filhos dessas nações; não darás
tuas filhas a seus filhos, nem tomarás suas filhas para teus filhos”
(Deuteronômio 7.3). Esta proibição se
estende não apenas para o Antigo Testamento, em 2 Coríntios 6:14 diz o
seguinte: “Não vos ponhais em jugo desigual com os incrédulos; porquanto que
sociedade pode haver entre a justiça e a iniquidade? Ou que comunhão, da luz
com as trevas?”, é notório que esta passagem não se trata diretamente sobre o
casamento, ela está ligada a qualquer união que não é do agrado de Deus. Ou seja, qualquer junção de um crente com
descrente não deve ser realizada. Por
diversas vezes Deus vem mostrando a proibição da união de seu povo com outros
povos.
Por toda parte da bíblia vemos que Ele sempre os adverte para não tomar
mulheres de outros povos. Deus não
permitiu que o seu povo desse os filhos para casarem com outros povos que não
fosse o de Israel, como por exemplo: os Cananeus, heteus, zebuzeus, filisteus, moabitas,
amonitas, edomitas, sidônios etc., enfim todos aqueles que não faziam parte do
povo israelita.
No livro de Josué é mencionado um alerta para o perigo
de Israel se casar com as mulheres de outras nações, e que isso poderia ser uma
armadilha para eles:
Portanto, empenhai-vos em guardar a vossa alma, para amardes o SENHOR,
vosso Deus. Porque, se dele vos desviardes e vos
apegardes ao restante destas nações ainda em vosso meio, e com elas vos
aparentardes, e com elas vos misturardes, e elas convosco, sabei, certamente,
que o SENHOR, vosso Deus, não expulsará mais estas nações de vossa presença,
mas vos serão por laço e rede, e açoite às vossas ilhargas, e espinhos aos
vossos olhos, até que pereçais nesta boa terra que vos deu o SENHOR, vosso
Deus. (Josué 23:11-13).
Ao chegar ao fim do livro, Josué deixa um
questionamento para o povo e menciona qual é a sua decisão: “Porém, se vos
parece mal servir ao SENHOR, escolhei, hoje, a quem sirvais: se aos deuses a
quem serviram vossos pais que estavam dalém do Eufrates ou aos deuses dos
amorreus em cuja terra habitais. Eu e a
minha casa serviremos ao SENHOR” (Josué 24:15).
Mostrando que muitos poderiam escolher a coisa errada, mas ele estava
disposto a servir a Deus. O povo deveria
saber que a união com outros povos acarretaria em uma prática que não estava
dentro dos padrões que Deus tinha estabelecido para eles.
É notório que a preocupação de Deus em não permitir
que Israel se casasse com outras nações, era certamente para evitar que seus
servos deixassem de servi-lo e passassem a cultuar outros deuses, passando assim,
a ser um povo idólatra. Com isso
acabariam fazendo coisas abomináveis ao Senhor como está descrito em Malaquias
2.11 “Judá tem sido desleal, e abominação se tem cometido em Israel e em
Jerusalém; porque Judá profanou o santuário do SENHOR, o qual ele ama, e se
casou com adoradora de deus estranho”.
Isto aconteceu com o próprio rei Salomão, que entre
todos os homens foi considerado o mais sábio de todos os tempos, onde sua
sabedora não foi superada até aos dias atuais.
Só que ele não teve a sabedoria de se manter longe das mulheres
estrangeiras que o Senhor tinha ordenado e acabou sendo levado a levantar
altares para deuses pagãos. Isto depois
de ter possuído 700 esposas e 300 concubinas de nações que Deus tinha ordenado
ao povo de Israel a não se casarem. Toda
essa atração por mulheres não foi por apenas herdar do pai, mas também para concluir
“transações comerciais com reis estrangeiros que envolviam ‘casamentos
políticos’ e desse modo formou um harém de esposas oriundas de muitas terras (1
Reis 11:1-8)”. (TENNEY,
1990, p. 18).
Como elas eram mulheres pagãs fizeram com que ele
cedesse aos seus caprichos e ele fez o que elas queriam: levantar os altares
para os deuses pagãos para poderem cultuá-los, e provavelmente Salomão
participava de algumas cerimônias acompanhando suas esposas.
Assim, fez Salomão o que era mau perante o SENHOR e
não perseverou em seguir ao SENHOR, como Davi, seu pai. Nesse tempo, edificou Salomão um santuário a
Quemos, abominação de Moabe, sobre o monte fronteiro a Jerusalém, e a Moloque,
abominação dos filhos de Amom. Assim fez
para com todas as suas mulheres estrangeiras, as quais queimavam incenso e
sacrificavam a seus deuses. (1 Reis 11.6-8)
2.4.
A CERIMÔNIA.
O casamento para os
israelitas era um momento de extrema alegria, onde “A cerimônia principal era a
[sic] entrada da noiva na casa do esposo” (VAUX, 2002, p. 56). Além do mais existiam cerimônias que eram
públicas e outras particulares, e nestas festas existia um rigor nas suas
vestes. Alguns participantes iam com
trajes especiais que neles podiam conter até joias preciosas: “..., como noivo
que se adorna de turbante, como noiva que se enfeita com as suas joias” (Isaías
61.10d). Quando se faz uma comparação
entre as noivas do Antigo Testamento com as da atualidade não será encontrada
grandes diferenças, elas também como as de hoje utilizavam véus (ver. Gên.
24.65), e em suas festas havia algumas ornamentações de flores ou de coroas de
flores (CHAMPLIN, 1991).
Diferente dos ocidentais
que dão ênfase no casamento à noiva, para os judeus o centro de toda a atenção
é o noivo. Apesar de a noiva estar toda
adornada com jóias e com um vestido magnificamente bonito, é o homem que tem
todo o destaque (TENNEY, 1990). Na cerimônia o noivo entra com a sua cabeça
enfeitada com diademas e é acompanhado por seus amigos que vem cantando e
tocando tamborins (VAUX, 2002), o livro de Macabeus relata esta
cena: “o noivo, e os
seus amigos e irmãos, avançando ao encontro desta comitiva, ao som de tambores
e instrumentos musicais, com muita gente armada” (Macabeus 9.39). O percurso que eles faziam tinha como o
destino a casa da noiva, saindo da casa do noivo e indo direto para a casa da prometida. (VAUX, 2002).
Como em toda a cerimônia
de casamento em qualquer cultura, no cerimonial judaico existia algumas
formalidades. Para os judeus o casamento
era constituído de dois estágios. Eles
dividam em noivado “erusim” ou “kiddushin” e Casamento “huppah” (a palavra significa
“baldaquino”) que representava a verdadeira cerimônia de levar a noiva para
casa. “O noivado era uma promessa de casamento com valor legal (Dt 20.7)” (TENNEY,
2008, p. 981, v. 1). O homem possuía alguns direitos quando se casava,
como a isenção do serviço militar e para a mulher quando ela assumia o
compromisso de matrimônio, era vista como equivalente a uma mulher já
casada. Qualquer homem que tivesse a
ousadia de violentá-la, ou se a mulher tivesse qualquer relacionamento com
outro homem, eles eram apedrejados até a morte e eram considerados como
adúlteros. (TENNEY, 2008, v. 1)
O “kiddushin” é o
noivado que pode ser comparado como um casamento que ainda não foi consumado, e
“de acordo com a lei, a noiva podia ser comprada (contratada em casamento)
mediante pagamento em dinheiro, por documento (um contrato curto) ou por
coabitação.” (TENNEY, 2008, p. 981, v. 1). Já o “Huppah” é a cerimonia propriamente dita
do casamento, Tenney da uma descrição dessa cerimônia bem detalhada da
realização da cerimônia e como era realizada.
a verdadeira cerimônia de casamento, na qual o noivo
leva a noiva para casa. o casamento era
um tempo de alegria. A principal
cerimônia era a entrada da noiva na casa do noivo. O noivo era o rei por uma semana. Durante toda a semana ele usava suas roupas
de festa, não trabalhava e apenas assistia as festividades – de vez em quando,
dançava com a noiva. Acompanhado por
seus amigos com tamborins e outros instrumentos, ele ia à casa da noiva onde a
cerimônia de casamento tinha início. A
noiva, ricamente trajada, adornada com joias (Sl 45. 14,15), geralmente usava
um véu, o qual tirava apenas na câmara nupcial.
Escoltada por suas damas de companhia, ela era levada à casa do
noivo. Canções de amor eram cantadas,
exaltando os noivos. Discursos eram
feitos em sua homenagem, exaltando as virtudes dos recém-casados. Grandes festividades eram preparadas na casa
do noivo ou, às vezes, na casa dos seus pais.
No final da festa a noiva era conduzida por seus pais até a câmara
nupcial (Jz 15.1). A noiva permanecia
com o véu durante todas as cerimônias (Gn 29.23). Depois da noite de núpcia (Gn 29.23) os pais
da noiva costumavam guardar o lençol usado na cama como prova da virgindade (Dt
22.13-21). A obrigação de preservar a
prova da castidade da jovem antes do casamento destinava-se a funcionar como
uma proteção contra as calúnias de um marido malicioso ou inconstante. Não havia festa de casamento para as
concubinas. (TENNEY, 2008, p. 981, v. 1)
Já Champlin, faz uma
descrição da importância que o povo Hebreu dava para o casamento:
O povo hebreu era um povo que se divertia, tomando
vinho e dançando, não muito parecido com os evangélicos de hoje, demasiadamente
inclinados ao ascetismo. Ver João
2.3,9,10. Rejeitar um convite a um
casamento era uma questão séria (ver Mat. 22.7). Vestes festivais eram usadas pelos
convidados. (CHAMPLIN, 1991, p. 175, v. 4)
Os israelenses eram um
povo extremamente festivo que dava muita ênfase em suas comemorações, chegando
ao ponto de compararem a falta de uma pessoa na festa como uma desfeita muito
grave para com eles.
2.5.
A ALIANÇA.
O casamento por si só é
uma aliança feita entre duas pessoas (um homem e uma mulher) que decidem viver
juntas com a finalidade de formarem uma família. Pode
se dizer que o “casamento é uma aliança
solene entre só um homem e só uma mulher que prometem fidelidade mútua até
que a morte os separe” (REFLER, 1992, p. 147).
Este aspecto pode ser visto em algumas citações do
Velho Testamento como em Provérbios que diz: “a qual deixa o amigo da sua
mocidade e se esquece da aliança do seu Deus” (Provérbios 2.17), esta passagem
mostra que “ao deixar o marido com quem se casou quando jovem, é acusada por
Deus de esquecer (e quebrar) Sua aliança. O casamento, portanto, é nada mais
que uma aliança ordenada por Deus.” (ADAMS, 1996, p. 47). Já em Malaquias menciona o seguinte: “E
perguntais: Por quê? Porque o SENHOR foi testemunha da aliança entre ti e a
mulher da tua mocidade, com a qual tu foste desleal, sendo ela a tua
companheira e a mulher da tua aliança” (Malaquias 2.14). Nesta última passagem, o profeta mostra que o
casamento, é uma aliança de Deus, e que o homem havia quebrado. O livro mostra que Deus estava expondo para o
povo que a esposa, além de ser a sua auxiliadora idônea, ela é a esposa que foi
conquistada por meio de uma aliança (ADAMS, 1996). O matrimônio é uma aliança que é realizada na
presença de Deus e podemos ver através da declaração de Adams que o casamento
não é uma opção, mas uma ordem porque está dentro do propósito de Deus, e como
sendo uma aliança ela é feita na presença de Deus. (ADAMS, 1996).
Há uma referência indireta ao casamento nos 10
mandamentos, mostrando a fidelidade no matrimônio. Refler diz que a “promessa de lealdade
conjugal também está implícita no sétimo mandamento” (REFLER, 1992, p. 147), lembrando que a
aliança é feita entre homem e a mulher, e principalmente entre o casal com
Deus.
O casamento era marcado
com um acordo que envolvia tanto pessoalmente como coletivamente. A fidelidade de se cumprir o acordo feito
entre as famílias era algo prioritário para elas, afim de que pudessem ter uma
segurança no cumprimento da aliança ali estabelecida (CHAMPLIN, 1991, v.
4.). Um exemplo deste acordo feito no
casamento se encontra no livro de Tobias:
Então Raguel [sic]
respondeu: Não duvido que Deus aceitasse em sua presença as minhas orações e as
minhas lágrimas. E creio que por isso
êle [sic] fez que viésseis ter comigo, para que esta filha se desposasse com um
da sua parentela, segundo a lei de Moisés; por isso não duvides que eu ta [sic]
darei. E, pegando na mão direita de sua
filha, a pôs na mão direita de Tobias, dizendo: O Deus de Abraão, e o Deus de
Isac [sic], e o Deus de Jacó seja convosco, e êle [sic] mesmo vos ajunte e
cumpra em vós a sua bênção. E, tomando
papel, fizeram a escritura de Casamento. (Tobias 7.13-16)
Outro exemplo que se pode encontrar sobre a aliança
no casamento é em Malaquias 2.14 que chama a esposa de “a mulher de tua
aliança”, ou berît. Este termo berît se refere geralmente ao
contrato religioso, mas aqui se trata de um acordo referente ao casamento. Em Provérbios 2.17 por sua vez, o casamento é
chamado de “aliança de Deus”. (VAUX,
2003).
Os judeus levavam muito a sério o matrimônio,
considerando-o como um assunto civil.
Eles possuíam um título de casamento que “era um contrato legal,
definindo os direitos das partes envolvidas. Para os israelitas, era uma
aliança ou b’ritho [sic].” (TENNEY, 2008, p. 981, v. 1).
2.6.
A FESTA DO CASAMENTO.
A festa era
a parte mais importante na cerimônia do casamento, e quem geralmente custeava a
festividade era a família da noiva (Gênesis 29.22), mas que isso fosse uma
regra fixada, às vezes podia ver os pais do noivo participando também nos
custos da realização do festejo (Juízes 14.10) (TENNEY, 1990). Ainda dentro da festa, havia também um
momento muito esperado, o pronunciamento das bênçãos de Deus sobre o casal
proferido pelo pai. “Foi por isto que
Isaque abençoou a Jacó antes de enviá-lo a Harã para buscar uma esposa (Gênesis
24:60; 28:1-4)” (TENNEY,
1990, p. 31).
A festa do casamento no
período do Antigo Testamento não era muito distinta das festas encontradas hoje
em dia, tirando o contexto cultural típico de cada região e épocas, elas são
praticamente idênticas. Em alguns casos
os “festejos do casamento prosseguiam, talvez tanto quanto uma semana (ver Gên.
29.27). Música, danças e vinho eram importantes elementos desses festejos,
juntamente com muita comida.” (CHAMPLIN, 1991, p. 175, v. 4). Note que as pessoas quando realizavam seus
casamentos, dificilmente estavam preocupadas com o seu tempo de duração, mas sim
com a alegria e a felicidade que um matrimônio representava.
2.7.
A CONSUMAÇÃO DO CASAMENTO.
Para os israelitas, o
casamento só se confirmava com a consumação do ato sexual. “Entre muitos povos, enquanto o casamento não
se consumasse, poderia haver anulação do matrimônio, sem necessidade de
divórcio” (CHAMPLIN, 1991, p. 175, v.
4). Eles eram tão rígidos neste aspecto que um “pano
manchado de sangue deveria ser exibido como prova da virgindade da noiva” (CHAMPLIN, 1991, p. 175, v. 4), se isso não acontecesse à mulher era devolvida
para seus pais e o casamento era imediatamente anulado. Este fato é encontrado no livro de Deuteronômio.
Se um homem casar com uma mulher, e, depois de
coabitar com ela, a aborrecer, e lhe atribuir atos vergonhosos, e contra ela
divulgar má fama, dizendo: Casei com esta mulher e me cheguei a ela, porém não
a achei virgem, então, o pai da moça e sua mãe tomarão as provas da virgindade
da moça e as levarão aos anciãos da cidade, à porta. O pai da moça dirá aos anciãos: Dei minha
filha por mulher a este homem; porém ele a aborreceu; e eis que lhe atribuiu
atos vergonhosos, dizendo: Não achei virgem a tua filha; todavia, eis aqui as
provas da virgindade de minha filha. E
estenderão a roupa dela diante dos anciãos da cidade, os quais tomarão o homem,
e o açoitarão, e o condenarão a cem siclos de prata, e o darão ao pai da moça,
porquanto divulgou má fama sobre uma virgem de Israel. Ela ficará sendo sua mulher, e ele não poderá
mandá-la embora durante a sua vida.
Porém, se isto for verdade, que se não achou na moça a virgindade,
então, a levarão à porta da casa de seu pai, e os homens de sua cidade a
apedrejarão até que morra, pois fez loucura em Israel, prostituindo-se na casa
de seu pai; assim, eliminarás o mal do meio de ti. (Deuteronômio 22.13-21.)
Os Israelitas davam uma
ênfase muito exagerada nesta confirmação e si detinham principalmente no que
era dito na lei sobre a permanência da mulher no seu estado virginal. A mulher não podia ter nenhum tipo de relação
sexual antes do seu matrimônio. Isto era
descrito que “era contrário a Lei que uma mulher
não casada tivesse relações sexuais”. (TENNEY, 1990, p. 21).
Segundo a
lei, a mulher deveria estar no seu estado de pureza, para entregar-se ao seu
futuro esposo, e se no dia das núpcias fosse constatada que ela não era mais
virgem, a mulher seria levada para a porta de seus pais e para que os homens da
cidade jogassem pedra nela até que ela morresse. (TENNEY, 1990).
Pr. Anderson Roque Gouveia
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