INTRODUÇÃO
Podemos observar que nas
três Epístolas o escritor está muito preocupado com os hereges, sendo esse nome
usado às pessoas que tentavam negociar uma mensagem notavelmente oposta ao
Evangelho verdadeiro, que semeavam contendas e dissensões, e levavam vidas
moralmente questionáveis. O apóstolo Paulo exortava seus amigos mais íntimos,
Timóteo e Tito, a terem cuidado com esses homens.
A característica mais
óbvia da heresia é sua combinação de ingredientes judaicos e gnósticos. De um
lado, os que a expõem, professam ser “mestres da lei” (I Tm 1:7) dedicavam-se a
disputas acerca da lei (Tt 3:9), e estavam muito ocupados com “fábulas e
genealogias” (I Tm 1:4), do outro lado, não eram judaizantes do tipo que Paulo
tinha de combater no seu ministério anterior, sendo a doutrina destes ascéticas,
envolvendo , por exemplo, a renúncia do casamento e a abstinência de certos
tipos de alimento, possivelmente também do vinho (I Tm 4:3; 5:23).
Neste trabalho iremos
nos aprofundar nas heresias, no qual Paulo tentou advertir seus colaboradores, sendo-as:
o gnosticismo, as fábulas, e as genealogias.
1 – Gnosticismo
Nome derivado do termo
grego “gnosis”, que significa conhecimento, os gnósticos tornaram-se uma seita
que defendia a posse de conhecimentos secretos que, segundo eles, tornava-os
superiores aos cristãos comuns que não tinham o mesmo privilégio. O gnosticismo
tornou-se uma forte influência na Igreja.
A premissa básica do
gnosticismo é uma cosmovisão dualista. A partir do Supremo Deus Pai procediam
sucessivos seres finitos (éons), quando um deles (Sofia) deu à luz a Demiurgo
(deus criador), que criou o mundo material "mau", juntamente com
todos os elementos orgânicos e inorgânicos que o constituem.
Cristãos gnósticos,
como Marcião (160 d. C.) e Valentim, ensinavam que a salvação vem por meio de
um desses éons, Cristo, que se dirigiu-se cauteloso através dos poderes das
trevas para transmitir o conhecimento secreto (gnosis) e libertar os espíritos
da luz, cativos no mundo material terreno, para conduzi-los ao mundo espiritual
mais elevado. Cristo, embora parecesse ser um homem, nunca assumiu um corpo
físico; portanto, não foi sujeito às fraquezas e emoções humanas. Jesus não
veio em carne!
Algumas evidências
sugerem que uma forma principiante de gnosticismo surgiu na era apostólica e
foi o tema de várias epístolas do Novo testamento no combate a essas heresias
(I João; Epístolas Pastorais). A maior polêmica contra os gnósticos apareceu,
entretanto, no período patrístico, com os escritos apologéticos de Irineu
(130-200), Tertuliano (160-225) e Hipólito (170-236). O Gnosticismo foi
considerado um movimento herético pelos cristãos ortodoxos. Atualmente, é
submetido a muita pesquisa, devido às descobertas dos textos de Nag Hammadi, em
1945/46, no Egito. Muitas seitas e grupos ocultistas demonstram alguma influência
do antigo Gnosticismo.
Quase todos os
gnósticos eram docéticos ou "semidocéticos". Supunham que Jesus, o
Cristo, não teria corpo humano, mas tão-somente "pareceria" ser
humano (do que se deriva o termo "docetismo", no grego, dokeo,
"parecer"). Isso expressa o "docetismo puro", a total
negação de qualquer tipo de humanidade associada à pessoa de Cristo. Todavia, a
maioria dos gnósticos era "semidocética". Acreditavam na teoria da
"possessão".
2 – Fábulas
No grego temos a
palavra “muthos”, que significa “mito”, “fábulas”. Essa palavra ocorre nas
Epístolas Pastorais em I Tm
1:4; I Tm 4:7; II Tm4:4 e Tt 1:14. Nos demais livros do Novo Testamento,
aparece apenas em II Pd
1:16. Na septuaginta aparece em Sabedoria de Salomão 17:4 e Eclesiástico 20:19,
sempre nos livros apócrifos.
Devemos observar que
no trecho de Tito 1:14, é feita menção às “fábulas judaicas”, onde provavelmente
Paulo se referia as histórias fabricadas, supostamente dotadas de valor
religioso e espiritual, baseadas em heróis judeus da fé, como Abraão e outros
patriarcas do Antigo Testamento. Sendo esse tipo de atividade bastante evidente
nas várias tradições, notável nos “apocalipses judaicos”. O haggada do Talmude
também ilustram histórias “inventadas”, cuja intenção era servir de instrução
religiosa. O livro dos Jubileus procura reescrever a história primitiva do
ponto de vista da lei, fazendo com que já fosse conhecida e praticada até mesmo
entre os anjos, estando desde o começo mesmo do livro de Gênesis e fornecendo
várias narrativas pertencentes a mitos. Vemos também o livro das Antiguidades
Bíblicas, uma crônica lendária do Antigo Testamento atribuída a Filo, desde
Adão até Saul, datado do século I da era cristã, também encerra tais fábulas. Muito
provavelmente é derivada dessas lendárias do haggada, a alusão a Janes e
Jambres, em II Tm
3:8.
3 – Genealogias
A palavra grega
traduzida como as “Genealogias”, fala sobre o traçado da linhagem dos
antepassados, sendo usada somente em I Timóteo 1:4 e Tito 3:9. Podemos analisar que várias
interpretações são possíveis fazer a respeito dessa palavra nessas referências:
A.
Poderia indicar um interesse obsessivo pelas
genealogias, por razões de auto-exaltação, através de “linhagens
significativas”, ou por razões religiosas. Podemos ter o exemplo dos Mórmons
nos nossos dias, pois eles dão uma excessiva importância às genealogias, simplesmente
porque praticam o “batismo pelos mortos”. È possível que os gnósticos também
tivessem alguma crença ou prática religiosa que conferia excessiva importância
às genealogias.
B.
Também é possível que o autor sagrado esteja fazendo
alusão à interpretação alegórica das narrativas do Antigo Testamento. Filo e
outros escritores judeus interpretavam esses registros, sendo possível que
diversas fábulas se tenham vinculado a essa prática.
C.
Outros estudiosos supõem estar em foco alguma espécie
de orgulho “judaico”, nos registros apropriados das linhagens dos antepassados,
talvez usassem desse artifício para incitar seu orgulho racial e seu
exclusivismo, mais essa interpretação não é muito provável.
D.
Outros eruditos, pensando que esta repreensão se volta
puramente contra as doutrinas gnósticas distintivas, supõem que essas
genealogias são especulações em que se ocupavam, com gradações intermináveis de
“aeons” ou emanações angelicais de Deus.
Essa última
interpretação é a mais provável de todas, Irineu e Tertuliano dão apoio a esta
interpretação, já que eles mesmos tinham estado ocupados em similares
especulações, entre os gnósticos.
Conclusão
Podemos concluir que as
Epístolas Pastorais foram essencialmente escritas para dar combate às heresias,
onde Paulo instruiu seus colaboradores para esse combate, advertindo-os para
que ensinassem a igreja a não darem ouvidos a palavras enganadoras, e sim que
se mantessem orando e ouvindo a palavra verdadeira que é a Palavra de Deus.
Referências Bibliográficas
KELLY, John N.D.. I e II Timóteo e Tito: Introdução e Comentário. São Paulo: Vida
Nova. 1983.
CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento Interpretado Versículo Por
Versículo, Vol. 5, São Paulo: Candeia. 1995.
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