Lucas 15, versículos 1 a 7, nos transmite a parábola da ovelha perdida, magistral ensino de Jesus sobre o comportamento ignorante e rebelde do homem face ao inefável amor de Deus e o valor inestimável que Ele dá a cada um dos seus. Magistral figura, que deve continuar a ser ensinada em todas as oportunidades, por tudo o quanto encerra sobre o pecador e recuperado.
Mas, deixando um pouco de lado a ovelha desgarrada, pensemos um pouco naqueles 99 que o pastor deixou seguras no deserto para buscar a perdida. E por que razões estas 99 ovelhas se sentiam seguras?
É preciso conhecer um pouco da vida pastoril, para entender. Nas regiões pastoris do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, se aprende isto; o pastor nunca sai só, com as ovelhas, leva sempre dois ou três rapazes e mais alguns cães de guarda, especialmente treinados para o mister. A Bíblia não nos dá esse pormenor, mas é impossível imaginar que o pastor houvesse deixado 99 ovelhas desprotegidas num deserto para buscar uma só, desgarrada. Então, o bom senso e a lógica me faz crer que o pastor escolheu um lugar próprio, quem sabe uma espécie de oásis, e ali deixou as 99 ovelhas com seus auxiliares e em lugar seguro. O que fazia com que estas ovelhas se sentissem em segurança?
Em primeira razão, elas sabiam estar sob a guarda de um pastor; embora momentaneamente ausente, ali estavam seus representantes, da confiança do pastor. Assim o cristão: corporalmente ausente o Bom Pastor, por um pouco de tempo, tem ele os "auxiliares", pastores e oficiais de sua igreja, que o alimentam e o guardam dos perigos. Tem o cristão a Bíblia, que ele pode ler, pode ouvir e alimentar-se espiritualmente, até a volta do Bom Pastor.

A terceira e última razão por que as 99 ovelhas se sentiam seguras é que elas se congregavam num só rebanho. Como se sabe, ovelhas são animais muito mal aquinhoados pela natureza, quanto aos sentidos; a visão de ovelha não ultrapassa 50 metros; seu faro é quase nulo; sua voz, isto é, o seu balido, é fraquissimo e sua audição não vai além da sua visão. Além disso, não possui nenhum elemento natural de defesa pessoal,
nem mesmo sabe correr; diante do perigo, fica imóvel, inerte e inerme, entregue ao seu algoz.
E aqui vem o ensino: por que motivo Jesus nos chama de ovelhas? Simplesmente porque, mesmo longe dele, por um pouco de tempo, estamos sob a guarda dos seus "auxiliares", pastores, oficiais, missionários e pregadores, que nos proporcionam a segurança de que carecemos. Ovelhas só têm condições de sobrevivência se estiverem sob a guarda de um pastor, em lugar seguro e congregadas em rebanho. por esse motivo Jesus não nos chama de bois, de leões nem de águias. Ovelhas, simplesmente. Quando o homem, em sua bem conhecida arrogância, se julga forte bastante para dispensar o Pastor, a igreja e a companhia de outros irmãos, o que acontece? O homem, a criatura humana, aliás, mal enxerga, mal clama, mal ouve e mal sente, embora se orgulhe de ser forte, robusto o bastante para enfrentar o mundo.
Em Mateus 14:22 a 36, somos ensinados do episódio de Jesus andando por sobre o mar e sobre a tentativa do impetuoso Pedro em imita-lo. Sabemos que, se Jesus ali não estivesse, Pedro se teria afogado. Já ouvi mais de um sermão dizendo que a falha de Pedro foi falta de fé no momento exato ou do medo que ele sentiu do vento; para mim, a grande falha do velho apóstolo foi ele ter saído do barco; ali havia perigo, mas ainda assim era um barco. Fora do pequeno bote a morte era certa. Jesus podia andar sobre a água, pois Ele não está sujeito a leis físicas, de sua própria criação, mas Pedro, como criatura humana, teria que estar sujeito a elas.
Assim nós, os cristãos: em perigo na igreja, perdidos fora dela. E o que é a igreja, se não um barquinho em perigo neste mar encapelado que é o nosso mundo, perverso e dominado pelo maligno? Permaneçamos na
igreja, portanto, pois todo aquele que a deixa, por um ou outro motivo, "vai ao fundo". Jamais se ouviu dizer que alguém haja abandonado a igreja, seus líderes, a companhia dos irmãos e haja continuado a ser um cristão. A igreja é, realmente, uma congregação de pecadores, cada membro com a sua carga pesada do
velho homem, mas conscientes disso, permanecem ali, fiéis, sabendo que ali está, representado, a segurança, o alimento, a paz entre tormentas e a salvação. Mateus 16:18 nos transmite uma solene promessa de Jesus, de que as portas do inferno não prevalecerão contra a sua igreja.
Ismar R. Lima
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