A Inglaterra era um país em mudanças tanto política quanto
religiosamente. Isto pode ser visto no rei Henrique VIII (1.509-1.547) e em seu
Decreto de Supremacia (1.534). Este decreto separou a Igreja da Inglaterra do
controle de Roma, todavia mesmo com esta separação a Inglaterra continuou
amplamente católica na prática e na doutrina.
Então, o rei Eduardo VI subiu ao trono em 1.547. Apesar de
ser apenas um garoto, ele conduziu seu país ao Protestantismo. Este movimento
foi provavelmente devido ao fato de Eduardo ter sido treinado por conselheiros
protestantes. Com seu zelo de jovem, Eduardo abriu a porta para a doutrina e a
prática protestante fluir e crescer à medida que os anos se passavam.
Todavia, a morte prematura de Eduardo levou a uma radical e
criminosa mudança na Inglaterra. Esta mudança trouxe a lume uma guerra pelo
trono que foi finalmente tomado por Mary Tudor em 1.553. Durante seu reino de
cinco anos, ela ativamente restaurou o sistema católico e começou a livrar
sistematicamente a Inglaterra dos protestantes. Esta atividade deu-lhe o
renomado nome de "Maria Sanguinária".
Elizabeth Tudor sucedeu Mary e governou de 1.559 a 1.603.
Apesar de não ser uma pessoa realmente religiosa, Elizabeth mantinha um
catolicismo de aparências. Porém, movimentos políticos levaram-na a aceitar o
protestantismo. Esse movimento político, ligado à reações do povo contra a
antiga rainha Mary, guiaram a Inglaterra à posição protestante mais uma vez.
Elizabeth, não querendo perder nenhum tipo de vantagem política, organizou um
compromisso entre católicos e protestantes. Este decreto foi chamado de
"Acordo Elizabetano" e com ele surgiu o pensamento de que as guerras
religiosas da Inglaterra estavam "resolvidas". Mas isso só durou por
um curto período. Mesmo com esta "paz", muitos na Inglaterra ainda
clamavam por reformas maiores na Igreja. Este clamor por mais reformas originou
um grupo de pessoas que viria a formar grupo chamado puritano.
OS
PURITANOS
Tristemente, a maioria das pessoas hoje não possui uma
compreensão apropriada dos puritanos. Eles tendem a ser interpretados como
velhos fanáticos que só queriam estragar o prazer de todo mundo. Contudo, a
visão moderna dos puritanos está longe da verdade. Talvez a contribuição
seguinte sobre os verdadeiros puritanos nos coloque no caminho para um
entendimento correto:
A questão essencial em entender os puritanos é que eles eram
pregadores antes de qualquer outra coisa… em seus esforços eles eram conduzidos
por sua preocupação em reformar o mundo através da Igreja, todavia estes
esforços foram frustrados pelos líderes da Igreja. O que os manteve unidos,
encorajou seus esforços, e deu-lhes a dinâmica para persistirem foi a sua
consciência de que eram chamados para pregar o Evangelho.
Os puritanos queriam ver a verdadeira reforma bíblica
alcançar a Igreja. Estes antigos puritanos foram conduzidos pelo Bispo Hooker e
Thomas Cartwright e começaram a clamar por uma Igreja "pura".
Contudo, a rainha e a Igreja da Inglaterra não estavam dispostas a discutir com
estes puritanos e assim começaram a forçar a conformidade religiosa pela lei.
Assim encerrou-se um breve período de paz religiosa.
OS
SEPARATISTAS
Esta exigência de conformidade da parte das forças políticas
e religiosas da Inglaterra originaram um grupo conhecido como os "Separatistas".
Os princípios por trás deste movimento eram a liberdade da Igreja do domínio do
Estado, doutrina pura ao invés de doutrina diluída ou comprometida, e reforma
geral da Igreja. Os separatistas tomaram a Bíblia a sério e determinaram-se a conduzir
suas vidas por seus ensinos. Eles enfatizavam que a Igreja era formada somente
por aqueles que foram redimidos, não um corpo de oportunistas politicamente
orientados. Eles se recusavam a crer que a Bíblia ensinasse um governo
eclesiástico hierárquico (governo de cima para baixo), ao invés disso clamando
por um governo eclesiástico que tivesse alguma participação do povo (governo a
partir dos níveis mais rasteiros). Eles preferiam uma liturgia simples de
adoração que enfatizasse o Deus Santo. Eles sentiam que os documentos estatais
e os auxílios escritos da Igreja da Inglaterra levavam as pessoas a focalizarem
sobre as formas e não sobre o Deus Soberano; por isso estes tipos de
"auxílio" eram detestados.
Foi deste tipo de clamor por pureza na Igreja, tanto na
adoração como na prática diária, que a "denominação batista", como é
conhecida hoje, emergiu através do movimento separatista inglês. A melhor
evidência histórica confirma esta origem, e nenhum grande erudito se levantou
nesta metade de século para desafiá-la." (McBeth) Conforme dissemos
anteriormente, os batistas emergiram com dois grupos separados. Voltemos nossa
atenção agora para o exame destes dois grupos diferentes:
BATISTAS
ANTIGOS OU GERAIS
Este grupo veio a ser conhecido como "Batistas
Gerais" porque acreditavam na expiação geral. Os Batistas Gerais também
tinham uma crença distinta em que os cristãos podiam enfrentar a possibilidade
de "cair da graça". Os dois principais fundadores do movimento dos
Batistas Gerais foram John Smyth e Thomas Helwys.
Acredita-se que a primeira Igreja Batista Geral foi fundada
por volta de 1.608 ou 1.609. Seu fundador foi John Smyth (1.570-1.612) e está
localizada na Holanda. A história de Smyth começa na Inglaterra onde ele foi
ordenado como sacerdote anglicano em 1.594. Logo depois de sua ordenação, seu
zelo levou-o à prisão por recusar-se a conformar-se aos ensinos e práticas da
Igreja da Inglaterra. Ele foi um orador que era rápido em desafiar outros sobre
suas crenças, mas era também tão rápido para mudar suas próprias posições à
medida que sua própria teologia pessoal mudava. Smyth continuamente combateu a
Igreja da Inglaterra até que começou a ficar óbvio que ele não podia mais ficar
em comunhão com esta igreja. Assim, ele finalmente rompeu totalmente com ela e
se tornou um "separatista".
Em 1.609, Smyth, junto com um grupo na Holanda, veio a crer
no batismo do crente (oposto ao batismo de crianças que era a norma da época) e
eles se uniram para formar a igreja "batista". No início, Smyth
concordava com a posição ortodoxa típica da igreja; mas à medida que o tempo
passava, como era tão típico, ele começou a mudar suas posições. Primeiro,
Smyth insistiu que a verdadeira adoração era do coração e que qualquer forma de
leitura a partir de um livro na adoração era uma invenção do homem pecador.
Oração, cântico e pregação tinham que ser completamente espontâneos. Ele foi
tão longe com esta mentalidade que não permitia a leitura da Bíblia durante a
adoração "uma vez que ele considerava as traduções inglesas das Escrituras
como algo menos do que a palavra direta de Deus" (McBeth, p 35).
Segundo, Smyth introduziu uma liderança eclesiástica de duas
dobras, pastor e diácono. Isso estava em contraste com a liderança reformada de
três dobras composta por presbítero-pastor, presbítero-leigo e diáconos.
Terceiro, com sua recém-descoberta posição sobre batismo,
uma preocupação completamente nova surgiu para estes "batistas".
Tendo sido batizados quando crianças, eles todos perceberam que tinham que ser
rebatizados. Uma vez que não havia outro ministro para administrar o batismo,
Smyth batizou-se a si mesmo e então continuou a batizar seu rebanho. Uma
observação interessante neste ponto que deveria ser feita como fundamentação é
que o modo do batismo usado era o da aspersão, pois a imersão não se tornaria o
padrão durante mais uma geração. Antes de sua morte, como parece característica
de Smyth, ele abandonou sua visão batista e começou a tentar trazer seu rebanho
para a igreja menonita. Apesar de ter morrido antes que isso acontecesse, a
maior parte da congregação uniu-se à igreja menonita depois de sua morte.
Agora voltamos nossa atenção para Thomas Helwys. Ele tinha
um relacionamento meio agitado com Smyth, mas depois que Smyth começou a se
afastar da fé dos batistas gerais, Helwys continuou com os primórdios batistas.
Helwys levou seu pequeno grupo para a Inglaterra em 1611 e esta foi considerada
a primeira igreja batista em solo inglês. Este grupo aferrado ao batismo do
crente, rejeitou o calvinismo por uma posição favorável ao livre-arbítrio (o
que incluía o cair da graça), e permitiu que cada igreja elegesse seus
oficiais, tanto presbíteros como diáconos (ou diaconisas). Por volta de 1.624,
havia cinco igrejas batistas gerais conhecidas e por volta de 1650 elas
contavam pelo menos 47 (McBeth, p 39). Apesar de alguns poderem ver o movimento
batista moderno neste grupo, temos que entender que as crenças deste grupo
estão longe da herança reformada que modelou a fé dos batistas modernos.
BATISTAS
PARTICULARES
Diz-se freqüentemente que os batistas na Inglaterra se
dividiram sobre a doutrina da expiação, mas isso não é reflexo de uma verdade
histórica. Sim, é verdade que os dois grupos mantinham diferentes visões sobre
a expiação e doutrina em geral, mas eles não se dividiram. Antes, eles
emergiram como dois grupos separados. Como foi com os batistas gerais, os
batistas particulares surgiram do movimento separatista. Este grupo emergiu nos
anos 1.630. Este grupo foi influenciado pelo grande reformador João Calvino e
sustentava fortemente a expiação "particular". Acredita-se que a
primeira igreja tenha sido fundada por volta de 1.633 ou 1.638, de acordo com
alguns. Independentemente desta datação, porém, está claro que por volta de
1.644 os batistas particulares contavam pelo menos sete igrejas. Um ponto
impressionante sobre este pequeno e muito jovem grupo é que em 1.644 estas
igrejas atuaram juntas para redigir uma confissão de fé chamada de Primeira
Confissão Batista de Londres. Esta confissão precedeu a amplamente conhecida
Confissão de Fé de Westminster por dois anos. Conforme veremos, as atuais
igrejas batistas podem recuar traçando uma linha até estes primeiros batistas.
Apesar da história batista típica ser atribuída mais ao
movimento dos batistas gerais, é, na verdade, aos batistas particulares que a
maioria dos batistas modernos devem sua doutrina e práticas. Como um
historiador nos recorda, os batistas gerais sempre representaram uma pequena
parte da vida batista na Inglaterra, e uma parte menor ainda na América. A
influência deles sobre as principais correntes da vida batista em ambos os
países parece ter sido muito pequena (McBeth, p 40).
A história do movimento batista particular começa com Henry
Jacob (1.563-1.624). Apesar de Jacob nunca ter se tornado um batista, ele foi
uma influência básica para o que seriam os batistas particulares. Poderíamos
chamar Jacob um separatista moderado. Jacob não estava disposto a chamar a
Igreja da Inglaterra de anticristo, portanto ele trabalhou continuamente para
reformá-la. Em 1.603, Jacob assinou um documento que clamava por reforma na
Igreja da Inglaterra. Este documento deveria ser vetado pelo rei Tiago I.
Apesar de Jacob não pedir separação, ele escreveu um tratado intitulado
"Razões" tirado da Palavra de Deus e dos melhores testemunhos humanos
para provar a necessidade de reformar as igrejas na Inglaterra. Com a
publicação deste livro, Jacob foi lançado na prisão por um curto período.
Quando de sua libertação, ele foi para o exílio na Holanda como fizera a
maioria dos separatistas. Apesar de estar relutante em cair radicalmente sobre
a Igreja da Inglaterra, ele veio a fazer uma distinção entre as verdadeiras e
falsas igrejas da Igreja da Inglaterra. Esta nova abordagem fê-lo clamar por
liberdade para formar diferentes tipos de igrejas com diversos tipos de
adoração.
Em 1.616, Jacob pôde retornar à Inglaterra e formou a Igreja
JLJ, como é conhecida hoje (pelas iniciais de seus três primeiros pastores:
Henry Jacob, John Lathrop, e Henry Jessey). Era essa igreja que daria mais
tarde início aos batistas particulares. Esta igreja tinha vários debates
surgindo em seu meio sobre batismo, debates que levaram a diferentes
rompimentos na Igreja JLJ. Um rompimento aconteceu em 1.633 quando dezesseis
pessoas pediram permissão para saírem da Igreja JLJ para formar uma igreja
separada. As razões para esta divisão eram duplas. A primeira estava além da
necessidade. A Igreja JLJ estava se tornando grande demais e corria perigo de
ser "descoberta" (uma vez que era ilegal ficar fora da Igreja da
Inglaterra). A segunda razão citada era a de que havia muita conformidade com a
Igreja da Inglaterra. Em 1638, outro rompimento aconteceu quando seis pessoas
deixaram a igreja JLJ por causa da questão do batismo de crentes, que eles
mantinham fortemente. Assim, a primeira Igreja Batista Particular pode ser
vinculada a uma ou ambas as igrejas.
Anderson Roque Gouveia
muito bom, obg por ajudar, que o Senhor o abençoe!
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