Um dos maiores desafios que enfrento em minha vida pastoral
é manter um equilíbrio adequado em minhas prioridades. Todo pastor
precisa desempenhar vários papéis, a fim de permanecer fiel à sua
chamada. Ele tem de ser um estudante da Palavra de Deus e um homem de
oração; ele tem de liderar sua igreja, trabalhar muito para pregar e
ensinar a Palavra, de modo que suas ovelhas estejam continuamente
sendo transformadas por ela na imagem de Cristo. O pastor tem de
realizar a obra de evangelista e dedicar-se à obra de lidar
individualmente com os membros da igreja. Tudo isso e muito mais está
incluído na obra de servir a Cristo como um pastor de almas.
Todo pastor é mais
do que um pastor. Ele é primeiramente (e antes de tudo) um discípulo.
Ele também é um esposo e, provavelmente, um pai. Além disso, o pastor
pode assumir outros deveres relacionados ao seu ministério. De que
maneira todos esses importantes papéis podem ser cumpridos, sem que o
melhor do pastor seja sacrificado no altar daquilo que é bom? Mesmo nas
melhores circunstâncias, esse é um desafio que nos causa temor.
Uma das perguntas
que sempre faço aos meus aconselhados é esta: “Em ordem de prioridades, para o que
Deus chamou você?” Essa é uma pergunta esclarecedora, porque força a pessoa a
avaliar sua vida com base naquilo que é mais importante. Ocasionalmente, faço
essa pergunta a mim mesmo e descubro que ela me ajuda a lutar por equilíbrio em
minha vida.
UM CRENTE
Para o que Deus me
chamou? Primeiramente, Ele me chamou para ser um sincero e dedicado seguidor de
Cristo. Isso é tão elementar, que facilmente podemos esquecê-lo. O profissionalismo
é um dos grandes perigos do ministério. Um pastor pode se tornar competente na
realização do seu trabalho. Assim como todas
as demais profissões, certas habilidades podem ser desenvolvidas e aprimoradas
no ministério do evangelho. Ele pode se tornar tão proficiente em seu
ministério público, que os outros o considerarão bem-sucedido.
Mas,
quando a mentalidade do “profissionalismo” conquista um pastor, seu coração
inevitavelmente começará a ser negligenciado. E o coração é a primeira
ferramenta de todo pastor. Se você não está amando a Deus com todo o seu
coração, porque tem negligenciado as responsabilidades básicas do discipulado,
não importa o quanto você pode se tornar bem-sucedido profissionalmente. Na
realidade, isso é uma vergonha.
Spurgeon
nos fala sobre um pastor que “pregava tão bem e vivia tão mal, que, ao subir
ele ao púlpito, todos diziam que ele nunca deveria sair dali; e, quando ele
saía do púlpito, todos declaravam que tal pastor nunca mais deveria retornar ao
púlpito”. Essa divisão da vida em áreas distintas pode ser aceitável em outras profissões;
no entanto, dificilmente ela pode ser harmonizada com o cristianismo vital e,
menos ainda, com a fidelidade no ministério pastoral.
Muitos
homens bons têm tropeçado nesse primeiro nível da vida pastoral. Portanto,
guarde o seu próprio coração. Leia a Palavra de Deus, antes e acima de tudo,
como um crente. Um pastor precisa das mesmas coisas que ele declara que os
outros necessitam. Ele deve seguir a sabedoria de Robert Murray M’Cheyne, o
qual afirmou: “Deus abençoa muito mais a semelhança com Jesus do que os grandes
talentos. Um pastor que vive em santidade é uma arma poderosa nas mãos de Deus”.
O
apóstolo Paulo advertiu aos presbíteros de Éfeso: “Atendei por vós”. Quando ele
repetiu essa advertência a Timóteo, acrescentou que fazer isso é um ingrediente
essencial para salvar “tanto a ti mesmo como aos teus ouvintes” (1 Tm 4.16). Os
pastores têm de transformar em um assunto de prioridade e disciplina o ler, o
meditar e o memorizar as Escrituras. Eles precisam também orar pela obra do
Espírito Santo em suas próprias vidas. Qualquer outro procedimento pastoral,
que corresponda a menos do que isso, será uma prática espiritual incorreta.
UM ESPOSO
Depois
de ser um crente, Deus me chamou para ser um esposo. Assim como muitos outros
pastores, desfruto da bênção de ter uma esposa crente e leal. Minha esposa, Donna, e eu entendemos com muita
seriedade nossos votos de casamento; isso significa que eu tenho de colocá-la e
preservá-la acima de todas as demais pessoas. Depois do Senhor Jesus, ela é a
minha maior prioridade.
Ser
um esposo é uma responsabilidade extraordinária. Jesus Cristo, em seu
relacionamento com a igreja, tem de ser nosso modelo. Ser o cabeça de um lar é
um grande desafio. Uma esposa piedosa tanto deseja quanto necessita da
liderança piedosa de seu esposo. A chamada para ser um bom esposo inclui
providenciar tal liderança. Cristo chama um homem para lutar contra os erros
mortais da passividade autoprotetora e do autoritarismo autopreservador na maneira
como ele se relaciona com sua esposa.
A
esposa do pastor pode ter o papel mais difícil a desempenhar em toda a igreja.
Ela vê todos os erros e falhas de seu marido e, apesar disso, a cada semana,
ela tem de receber, por intermédio dele, instrução da parte de Deus. A esposa
do pastor vive em uma vitrine. Expectativas irreais dos crentes podem
freqüentemente trazer estresse à vida da esposa do pastor. Comentários
irrefletidos, que podem ou não ter o propósito de magoar, podem ferir
profundamente a esposa do pastor. Se, além dessas e de outras pressões, ela
sentir que seu esposo está negligenciando-a, o fardo pode se tornar muito
pesado para ser suportado. O pastor, na função de esposo, tem a
responsabilidade e o privilégio de assegurar à sua esposa que ela é mais
importante do que qualquer outro dos seus relacionamentos ou das suas
responsabilidades. O pastor é chamado para fortalecer, estimular e ajudar sua
esposa a cumprir sua vocação como uma mulher de Deus.
Minha
esposa, Donna, precisa saber que ela
é mais importante do que meu ministério como pastor. Quando esta mensagem é
clara e regularmente transmitida, aqueles períodos inevitáveis de elevadas
exigências da parte da igreja são mais facilmente atravessados.
UM PAI
Em
terceiro lugar, Deus nos chamou para ser pais. Donna e eu temos seis filhos. Portanto, adquiri muita experiência
na prática da paternidade. Se as esposas dos pastores estão constantemente
sendo observadas, muito mais os filhos deles se tornam passíveis de críticas.
Com freqüência, eles são sacrificados “por amor ao ministério”. Quando eu era um
jovem pastor, lembro-me de estar sentado em meu escritório, enquanto ouvia um
pastor aposentado cujo ministério bem-sucedido era aclamado por todos. Ele me
falou sobre muitas coisas maravilhosas que havia experimentado nas igrejas em
que servira ao Senhor. Finalmente, ele acrescentou: “Eu paguei um preço elevado
por meu ministério. Meus filhos não aprenderam o que deveriam ter aprendido de
seu pai, e hoje eles abandonaram o Senhor e a igreja”.
Enquanto
ele chorava, eu pensava em suas palavras. Naquela época, meu único filho era
simplesmente uma criança que estava aprendendo a andar. A atração de
necessidades que nunca se acabam e de oportunidades para ministrar estava me
tentando a negligenciar minha família por amor ao “meu ministério”. Deus,
porém, me fez lembrar que, em termos de prioridade, Ele me chama para ser um
pai, antes de me chamar para ser um pastor. Meus filhos precisam saber que, juntamente
com minha esposa, eles são as pessoas mais importantes de minha vida. Minha
igreja também precisa saber disso.
Um
pastor pode negligenciar seus filhos facilmente, ainda que sem intenção e
motivado por um conceito errôneo de que ele tem de estar sempre pronto para
ministrar a outras pessoas. Mesmo nos melhores momentos, haverá algumas separações
na vida familiar de um pastor. A sua chamada envolve as 24 horas diárias. Se
acontecer a morte ou um acidente trágico com um dos membros da igreja, antes do
pastor sair para levar seu filho a uma pescaria, seus planos têm de ser
necessariamente mudados. Ele deve estar pronto para esperar tais exigências.
Por
causa disso, todo pastor sempre enfrentará duas tentações. A primeira tentação
é a de esperar que seus filhos simplesmente entendam as mudanças dos planos, da
mesma maneira como seu pai a entende. Um pastor sabe que, às vezes, é necessário
interromper certos planos, a fim de ministrar o evangelho a pessoas entristecidas.
No entanto, dependendo da idade, tudo o que seu filho pode saber é que ele não
precisava deixar de pescar, porque outra pessoa necessitava e recebeu o tempo e
a atenção de seu pai. Quando surgirem tais ocasiões, o pastor precisa conversar
com seu filho, mostrando-lhe simpatia e procurando compensá-lo de maneira
intencional e razoável.
A
outra tentação é a de tornar-se tão dominado pelo sentimento de culpa, por ter
mudado seus planos, que o pastor chega a permitir que seu filho o manipule,
levando a ações e decisões que, de outro modo, ele não seguiria
propositadamente. Exercer a paternidade motivado por sentimento de culpa se
tornou muito comum em nossa cultura, e infelizmente os pastores não estão
imunes a isso. Os pastores têm de separar, em sua agenda, tempo para os filhos
e cumpri-lo rigorosamente. Quando os planos que afetam nossos filhos tiverem de
ser mudados, por causa de emergências do pastorado, precisamos ser diligentes em
compensá-los.
UM PASTOR
Deus
me chamou também para ser um pastor. Esta é a minha chamada vocacional e ocupa
a maior parte do meu tempo. Constantemente, eu me admiro do fato de que Deus me
deu o privilégio de servi-Lo desta maneira. O ministério pastoral é a chamada
vocacional mais sublime do mundo. Minhas responsabilidades pastorais têm
precedência sobre quaisquer atividades que envolvam recreação ou não façam
parte do ministério. Tudo o que está envolvido no pastorear o rebanho de Deus
(e a Bíblia o descreve de maneira bastante compreensiva) constitui o meu dever.
Neste ministério, a minha tarefa mais importante é trabalhar fielmente na pregação
da Palavra e na oração. Todavia, essas duas atividades não devem ser realizadas
simplesmente em um nível de profissionalismo. Pelo contrário, elas devem ser
praticadas em meio à minha busca por santidade.
Existe
uma solidão inevitável que acompanha o pastorado. A maior parte do trabalho no
ministério pastoral pode ser feita somente quando um homem está sozinho com seu
Deus. Sem esse tempo de intimidade com Deus, o tempo gasto com as pessoas não
terá muito valor. Em nossos dias, existem milhares de “recursos” disponíveis
aos pastores, para capacitá-los a deixar de lado a árdua tarefa de estudar as
Escrituras e orar. Sermões “poderosos” e programas “garantidos” são
constantemente oferecidos aos pastores com intrépida fanfarrice. Um homem com
um pouco de esperteza, com pouca integridade e muitos recursos financeiros pode
se manter bem suprido com uma fonte inesgotável de tais recursos. Mas ele nega
a sua chamada por viver à custa do trabalho de outros, ao invés de fazer a obra
de seu próprio ministério.
UM AUXILIADOR
Além
dessas quatro chamadas, em minha vida, também estou envolvido em ajudar com
outros esforços proveitosos. Meu trabalho no Founders Ministries (editando a revista Founders Journal, publicando livros, etc.) e meu envolvimento na
associação de pastores de minha cidade são importantes. Mas, em termos de
prioridade, todas essas coisas ficam em um nível inferior às quatro coisas que já
mencionei. Guardando isso em meu coração, posso poupar-me de muitas dores e
confusão.
MANTENDO O EQUILÍBRIO
Como
essas prioridades funcionam? Bem, aqueles que nos conhecem sabem que não
praticamos sempre aquilo que escrevemos. Embora meu desejo e intenção sejam
nunca me desviar dessas prioridades, muitas vezes já tive de corrigir minhas atitudes
no transcorrer dos anos. Entretanto, esse é o valor de ter as prioridades definidas
com clareza. Elas nos fornecem um mapa confiável para fazermos os devidos
ajustes. Cada prioridade se fundamenta sobre a que a precede.
Quero
ser fiel em meu trabalho no Founders
Ministries. Mas eu não o poderei ser, se realizar aquele ministério à custa
de minhas responsabilidades pastorais na Igreja Batista da Graça. Além disso,
eu posso ser um pastor fiel sem estar envolvido em outros ministérios. No
entanto, não posso ser um ministro fiel, se negligenciar as prioridades de
minha esposa e meus filhos. Na verdade, de acordo com 1 Timóteo 3.4-5, estou
desqualificado para o ministério, se tal negligência qualificar minha vida.
Também não poderei ser um pai fiel, se falho em relação à minha esposa. Pelo
contrário, uma das melhores coisas que posso fazer por meus filhos é amar a mãe
deles. E não posso ser um esposo fiel, se negligenciar meu relacionamento com Cristo.
Todas
as prioridades de minha vida podem funcionar com importância apropriada, à
medida que eu me mantenho no lugar certo. Mas, quando uma prioridade inferior
toma o lugar de uma mais importante, estou me predispondo a uma queda. É
espiritualmente desastroso colocar a minha esposa acima do Senhor; ou meus
filhos acima de minha esposa; ou meus deveres pastorais acima de qualquer dos
outros três. Não é menosprezível para
a igreja que, em minhas prioridades, o lugar dela vem depois de minha dedicação
a Cristo e à minha família. Pelo contrário, a igreja recebe mais do que ela
necessita de mim, quando eu ministro motivado por um compromisso consciente com
essas prioridades.
Recordando
freqüentemente essas prioridades de minha vida, serei mais capaz de estabelecer
e manter um equilíbrio em minhas obrigações. Talvez a atitude de disciplina que
facilita este equilíbrio é aprender a dizer não. Spurgeon declarou que, para um
pastor, aprender a dizer não é muito mais importante do que aprender o latim!
Não importa quantas coisas o pastor tente fazer, sempre haverá mais a ser
feito. Algumas coisas boas que tentam exigir a atenção do pastor têm de
ser deixadas sem fazer, de modo que ele possa fazer aquilo que é melhor e mais
excelente. Quando o pastor tem de fazer estas escolhas difíceis, deve fazê-lo baseado
nas prioridades do seu chamado. Então, ele pode descansar seu coração sabendo
que agiu com fé, fundamentado nas exigências que Deus tem feito para a sua
vida.
Thomas
K. Ascol