O casamento foi instituído por Deus, na criação.
"Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e
mulher os criou. E Deus os abençoou, e lhes disse: Sede fecundos,
multiplicai-vos, enchei a terra esujeitai-a" (Gênesis 1.27,28).
"Porissodeixa o homem pai e mãe, e se une à sua mulher, tornando-se os
dois uma só carne" (Gênesis 2.24).
O casamento foi instituído por Deus para a felicidade
do ser humano. Por intermédio dele ocorre a "propagação da raça humana por
uma sucessão legítima".1 Mas o seu principal objetivo é o
companheirismo entre os cônjuges. A procriação é uma bênção adicional. Aliás,
isso deve ficar bem claro. Nicolas Berdyaev, em seu livro The Destiny of Man
(O Destino do Homem), afirma "que a união conjugal com o único
propósito de procriação deve ser considerada imoral".2
O casamento é uma instituição divina, mas a forma
como é feita a escolha dos cônjuges e a celebração da cerimónia nupcial não foi
determinada na instituição. E, por isso, varia de um povo para outro, de uma
época para outra. O primeiro processo de escolha de cônjuge registrado no
Antigo Testamento resultou no casamento de Isaque e Rebeca. A história pode ser
sintetizada assim: Abraão, já idoso, encarregou seu mais antigo servo da
escolha de uma esposa para Isaque. "Tomou o servo dez camelos do seu
senhor e, levando consigo de todos os bens dele, levantou-se e partiu, rumo da
Mesopotâmia, para a cidade de Naor." (Gênesis 24.10). E foi parar na casa
de Betuel, onde expôs o motivo da viagem, e conseguiu atrair Rebeca, com o
consentimento do pai e do irmão, para dirigir-se a Canaã e ser a esposa de
Isaque. "Saíra Isaque a meditar no campo, ao cair da tarde; erguendo os
olhos, viu, e eis que vinham camelos. Também Rebeca levantou os olhos e, vendo
a Isaque, apeou do camelo, e perguntou ao servo: Quem é aquele homem que vem
pelo campo ao nosso encontro? É o meu senhor, respondeu. Então tomou ela o véu e
se cobriu. O servo contou a Isaque todos as cousas que havia feito. Isaque
conduziu-a até à tenda de Sara, mãe dele, e tomou a Rebeca, e esta lhe foi por
mulher." (Gênesis 24.63-67). Os dois nunca se tinham encontrado antes;
talvez Isaque nem soubesse da existência de Rebeca. Não foi feita nenhuma
cerimónia nupcial. Simplesmente foram viver juntos... Mas estavam casados,
segundo os costumes da época.
Esse tipo de casamento tinha tudo para ser um grande
fracasso... mas funcionava. E funcionava bem porque era protegido por um
compromisso. O amor que unia os cônjuges era fruto desse compromisso.
O casamento de nossos dias é bem diferente. Os
pretendentes têm amplas oportunidades de se conhecer antes da decisão final.
Teoricamente suas possibilidades de fazer um bom casamento, de estabelecer uma
união harmónica e duradoura são bem maiores. Mas isso não tem acontecido porque
eles têm feito deste sentimento emocional subjetivo, denominado amor, a base do
seu casamento. E um sentimento, sujeito a muitas vicissitudes, não pode
garantir o êxito de uma instituição tão importante.
Para transformar o casamento que você tem no
casamento que você quer, o ponto de partida é a conscientização de que o
verdadeiro fundamento do matrimónio é o compromisso. O amor é importante, mas
até ele deve estar baseado no compromisso. Pois, como disse Erich Fromm:
"Amar alguém não é apenas um sentimento forte. É uma decisão, um
julgamento, uma promessa".3
Casamento que tem como base o amor não tem futuro.
Waylon Ward escreveu: "Um dos fatores mais significativos que afetam o
casamento parece ser a ideia de que o amor se tornou o fundamento sobre
o qual os casais tentam construir em lugar do compromisso. A maioria dos
casais tem uma compreensão do amor emocional e superficial. Eles se apaixonam,
se casam, deixam de amar e pedem divórcio".4
O Compromisso Estabelece Alvos a
Serem Alcançados
John e Betty Drescher relatam o seguinte: "No
último verão visitamos alguns amigos que estudaram conosco nos tempos do
seminário. Discutimos a direção de nossas vidas desde aqueles primeiros dias
juntos e falamos sobre os nossos casamentos e famílias. João e Helena nos
contaram ter repetido seus votos conjugais um ao outro, pelo menos duas vezes
por semana, desde que se casaram há trinta anos". E concluem: "Ao
refletirmos se*;re a ideia de João e Helena e conversar sobre ela, pensamos ter
descoberto o segredo do seu sucesso no casamento e na vida. É claro que ambos
tiveram tempos difíceis, como acontece com todo casal, mas foi esse tipo de
compromisso constante que os ajudou a superá-los e tornou a caminhada alegre e
suportável".5
Ao fazermos os votos conjugais, assumimos o compromisso
de amar, honrar, cuidar e defender o nosso cônjuge e ser-lhe fiel, na saúde e
na doença, na prosperidade e na adversidade, na alegria e na dor.
Comprometemo-nos também a viver ao seu lado até que a morte nos separe. E estes
compromissos se tornam a nossa meta, o nosso alvo. "Muitas experiências já
demonstraram que é muito mais fácil fazer uma coisa quando se tem um objetivo em
vista. Quanto mais você se aproxima de uma meta, maior é a força que esta meta
exerce sobre você".6
Todo casamento está sujeito a enfrentar problemas,
lutas e dificuldades. Mas quando o casal leva a sério o compromisso e o seu
alvo é viver juntos até que a morte os separe, torna-se muito mais fácil
superar as crises. Alguns missionários americanos que trabalhavam no interior
de nosso país usavam veículos equipados com uma polia e um longo cabo de aço.
Quando encontravam um atoleiro na estrada, eles amarravam o cabo de aço no
outro lado do atoleiro, ligavam a polia e, à medida que ela rodava, ia
enrolando o cabo de aço. Assim, o carro ia sendo puxado até atravessar o
atoleiro. Isto ilustra o papel do compromisso no casamento. Todo
casamento está sujeito a crises. Às vezes deparamo-nos com
"atoleiros" que ameaçam a nossa "viagem". Mas o nosso alvo
é "viver juntos até que a morte nos separe". Temos de vencer as
crises. Temos de transpor os atoleiros. E o compromisso funciona como o
cabo de aço que nos leva para o outro lado. Depois, tudo continua normalmente.
E só nos lembramos das crises como águas que passaram.
O Compromisso Produz Segurança
O amor é algo sublime, mas só o compromisso produz
segurança. Creio que todos os empresários gostariam de ter empregados que amam
o que fazem, que amam a empresa onde trabalham. Contudo, é provável que eles
não queiram ter como empregado uma pessoa que condicione o desempenho de suas
funções ao seu amor por aquele trabalho. Pois tal pessoa não daria segurança à
empresa. O amor é um sentimento emocional subjetivo, que está sujeito às nossas
condições físicas, mentais e psíquicas. Ele poderá ser afetado por uma dor de
cabeça, por uma discussão com alguém ou simplesmente por uma interpretação
incorreta de algum fato. O empregado que trabalhasse só por amor poderia
abandonar o trabalho a qualquer momento ou simplesmente se negar a executar
alguma tarefa. Ele não daria segurança ao empregador. O mesmo pode ser dito em
relação ao casamento. 'Todos os que estão casados, pelo menos há alguns anos,
sabem que nenhuma união significativa ou duradoura pode ser construída sobre a
filosofia: 'Viveremos juntos enquanto o amor durar'. Ao contrário, o casamento
só irá durar sob o compromisso: 'Amaremos um ao outro enquanto vivermos'."7
Precisamos de segurança no casamento. E só o compromisso
pode dar essa segurança. George Eliot, num belo poema, fala da beleza e da
sublimidade da segurança conjugal, com as seguintes palavras:
Que coisa mais sublime pode haver para duas almas
humanas Do que sentir que estão unidas para a vida inteira Fortalecendo uma à
outra em todas as dificuldades. Descansando uma na outra em todos os
sofrimentos, Unindo-se uma à outra nas lembranças silenciosas, indizíveis No
momento do último adeus.
Só o compromisso é que pode dar esta segurança.
Depois de trinta anos de vida conjugal, John e Betty Drescher escreveram:
"Se estivéssemos, então, começando nosso casamento de novo, iríamos
construir sobre o compromisso, um compromisso maior do que qualquer problema a
ser enfrentado".8
Compromisso é Compromisso
Vamos voltar à história do casamento de Isaque e
Rebeca. Os anos se passaram. Nasceram-lhes dois filhos: Esaú e Jacó. Isaque,
velho e cego, chamou Esaú para lhe dar a bênção reservada ao primogénito.
"Disse-lhe o pai: Estou velho e não sei o dia da minha morte. Agora, pois,
toma as tuas armas, a tua aljava e o teu arco, sai ao campo, e apanha para mim
alguma caça, e faze-me uma comida saborosa, como eu aprecio, e traze-ma para
que eu coma, e te abençoe antes que eu morra. Rebeca esteve escutando enquanto
Isaque falava com Esaú, seu filho. E foi-se Esaú ao campo para apanhar a caça e
trazê-la. Então disse Rebeca a Jacó, seu filho: Ouvi teu pai falar com Esaú,
teu irmão, assim: Traze caça, e faze-me uma comida saborosa, para que eu coma e
te abençoe diante do Senhor, antes
que eu morra. Agora, pois, meu filho, atende às minhas palavras com que te
ordeno. Vai ao rebanho, e traze-me dois bons cabritos; deles farei uma saborosa
comida para teu pai, como ele aprecia; levá-la-ás a teu pai, para que a coma, e
te abençoe, antes que morra." (Gênesis 27.2-10). Jacó seguiu as instruções
da mãe, enganou o pai e recebeu a bênção. Quando Esaú tomou conhecimento do que
se havia passado, implorou ao pai: "Abençoa-me também a mim, meu pai!
Respondeu-lhe o pai: Veio teu irmão astuciosamente, e tomou a tua bênção"
(Gênesis 27.34,35). Mesmo tendo sido enganado, Isaque entendeu que a sua
palavra não podia voltar atrás. Assim também é o nosso compromisso conjugal:
ele é muito sério e não deve ser revogado, mesmo que o tenhamos feito sem tomar
as devidas precauções. Compromisso é compromisso!
Deus abomina a atitude daqueles cônjuges que renegam
seus compromissos. "Ainda fazeis isto: cobris o altar do Senhor de lágrimas, de choro e de
gemidos, de sorte que ele já não olha para a oferta, nem a aceita com prazer da
vossa mão. E perguntais: Por quê? Porque o Senhor
foi testemunha da aliança entre ti e a mulher da tua mocidade, com a
qual tu foste desleal, sendo ela a tua companheira e a mulher da tua aliança. Porque
o Si.nhor Deus de Israel diz que
odeia o repúdio; e também aquele que cobre de violência as suas vestes, diz o Senhor dos Exércitos; portanto cuidai de
vós mesmos e não sejais infiéis." (Malaquias 2.13, 14 e 16).
Ninguém tem o direito de fugir ao compromisso assumido
no casamento. O argumento de que o amor morreu não justifica a separação de um
casal. Dietrich Bonhoeffer, no sermão pregado no casamento de sua sobrinha,
afirmou: "Assim como é a posse da coroa, e não apenas a vontade de reinar,
que faz um rei, da mesma forma, no casamento, não é somente o seu amor mútuo
que os une perante Deus e os homens. Assim como Deus está acima do homem, assim
também estão a santidade, os direitos e as promessas do casamento acima da
santidade, dos direitos e das promessas do amor. Não é o seu amor que susterá o
casamento, mas, doravante, é o casamento que susterá o seu amor."9
Conclusão
A base sobre a qual deve ser edificado o matrimónio é
o compromisso. O amor é muito importante, mas ele também só subsistirá
se estiver edificado sobre o compromisso.
O compromisso assumido diante do altar deve ser
levado até as últimas consequências. Pois com Deus não se brinca. É melhor não
assumir compromisso, do que, assumindo-o, não o cumprir. "Portanto, o que
Deus ajuntou não o separe o homem." (Mateus 19.6).
Para Refletir
"O cônjuge mais feliz não é
aquele que se casou com a melhor
pessoa, mas aquele que consegue
extrair o que há de melhor na
pessoa com quem se casou".1"
______________________________________________
1 Confissão de Fé de Westminster,
capítulo XXIX, parágrafo II
2 Citado por E. Clinton Gardner, Fé
Bíblica e Ética Social, p. 263
3 Citado por Jonh & Bctty
Drescher, Começar de Novo, p. 8
4 Citado por John & Betty
Drescher, op. cit., p. 9
5 John & Betty Drescher, op.
cit, p. 7
6 Joyce Brothcr c Edward Eagan, Como
Desenvolver a Memória, p. 113
7 John & Betty Drescher, op.
cit, p.9
8 John & Betty Drescher, op.
cit, p. 12
9 Citado por Larry Christenson,
in A Família do Cristão, p. 28
10 John & Betty Drescher, op.
cit, p. 17
(Adão Carlos Nascimento)
Oficina de Casamentos
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