Dentre as Epístolas
Paulinas existem um conjunto de três epístolas chamado Epístolas Pastorais,
Kümmel nos diz que:
“Essas três epístolas formam um bloco por se assemelharem de
maneira toda especial, formando um
grupo à parte entre as epístolas paulinas tradicionais, pois pressupõem os
mesmos falsos doutores, a mesma organização, quase as mesmas condições
semelhantes das igrejas, movem-se dentro do mesmo mundo conceptual teológico, e
têm as mesmas peculiaridades de língua e estilo.”
Esse título coletivo,
que indica a I e II Epístola de Timóteo e a Epístola a Tito, foi dado ás mesmas
desde o século XVIII. Trata-se de apropriada designação para as mesmas,
porquanto abordam problemas eclesiásticos, tendo por intuito ajudar os pastores
em seu trabalho, especialmente no ministério do ensino e na vigilância em favor
da igreja cristã, sobretudo no tocante aos assédios dos ensinamentos falsos.
Essas epístolas tratam essencialmente de tema de natureza prática, como a ordem
e a disciplina eclesiásticas, a seleção dos oficiais da igreja e o caráter e os
deveres dos membros da comunidade cristã.
Essas três epístolas
estão tão intimamente entrosadas, em sua estrutura, fraseologia e propósitos,
que não podem ser encaradas, como unidades separadas.
Alguns críticos
argumentam não serem da autoria do apóstolo Paulo como as outras epístolas que
o mesmo escreveu, por isso abordaremos neste trabalho a autenticidade das
epístolas pastorais como sendo verdadeiro escrito de Paulo
1. AS PERSONALIDADES
As cartas de I e II
Timóteo e a de Tito formam um grupo distinto na coletânea paulina, declaram ser
comunicações do grande Apóstolo enviadas a dois dos seus lugares-tenentes da
maior confiança. Receberam o título de “Pastorais” porque estão endereçadas a
pastores e, em grande medida, dizem respeito aos deveres deles.
Timóteo é um dos mais
conhecidos entre as personagens secundárias do Novo Testamento. Filho de um pai
pagão e de uma mãe judia convertida, juntou-se pela primeira vez à comitiva de
Paulo em Listra, na Licaônia, no início da segunda viagem missionária deste
(Atos 16:1,2). O apóstolo o considerava seu “cooperador”, e seu “filho amado e
fiel no Senhor” (Rm 16:21; I Co 4:17). Timóteo era relativamente jovem ( I Tm
4:12; II Tm 2:22), e temos a impressão que é um homem tímido e sensível, cuja
disposição de ânimo precisa de apoio.Ele representa Paulo presidindo sobre a congregação
de Éfeso.
Tito parece ter sido
um convertido de Paulo e ter desfrutado da mais plena confiança deste. Um pagão
de nascença, escoltou Paulo em sua segunda viagem para Jerusalém. Ainda que não
ficasse tão próximo do Apóstolo quanto Timóteo, deve ter tido um caráter mais
forte. Tito é apresentado a trabalhar em Creta, conforme a afirmação em Tito
1:5, com a tarefa de estabelecer um ministério apropriadamente ordenado em
todas as cidades da ilha, e também de pôr fim aos falsos ensinos que são generalizados.
Notemos que as
personagens de Timóteo e Tito, nessas epístolas, são muito mais que simples
pastores, dois entre muitos, que compartilhavam da liderança de igrejas locais,
o que é o caso normal no restante do N.T. Pelo contrário, eram figuras de grande
autoridade, capazes de nomear outros pastores, ou, pelo menos, de exercerem
algum controle sobre a nomeação dos mesmos.
2. AUTENTICIDADE
A origem paulina das
Pastorais não foi contestada desde o tempo de seu reconhecimento como escritos
canônicos, por volta do final do século II, até o começo do século XIX. Nesse
século, a autoria das pastorais começou a ser contestada por eruditos tais
como: J.E.C Schmidt (1804), F. Schleiermacher e J.C.Gess (1807), J.C. Eichhorn
(1812), tendo sua culminância com as três pastorais com o liberal F.C.Baur
(1835), para quem, as pastorais estavam relacionadas ao gnosticismo do século
II.
Entre os teólogos
modernos que duvidam da autoria paulina para as pastorais, conforme nos cita
Kümmel, temos: Dibelius, Conzelmann, Gealy, Fuller, Goodspeed,
Jullicher-Fascher, Klijn, Marxen, Schelkle, Bauer, von Camplenhausen, Bultmann,
Scheweizer, Kasch, Muller-Bardorff, Wegenast, Allan,Hanson,Stronbel, J.Blank e
O.Kuss.
3. EVIDÊNCIAS EXTERNAS DA AUTORIA DE PAULO
1.
Omitidas do Cânon de Marcion (talvez porque eram
privativas...e não por razões doutrinárias).
2.
No Cânon Muratoriano são apresentadas como epístolas de
Paulo.
3.
Irineu, Clemente de Alexandria e Tertuliano as atribuem
a Paulo.
4.
Peake, um autor liberal admite que a rejeição da
autoria paulina não se pode fundamentar sobre a evidência externa.
5.
D.Guthrie (conservador) mostra que a evidência externa
para as epístolas pastorais é tão forte como para a maioria das epístolas de
Paulo.
4. EVIDÊNCIAS INTERNAS DA AUTORIA DE PAULO
1.
O autor reivindica autoria paulina (cf. I Tm 1:1)
2.
Há muitas referências pessoais consistentes ( I Tm
1:13,15;2:7; II Tm 1:5,18; 3:10; 4:11,12,19).
3.
Existe harmonia doutrinária em três das pastorais e as
outras epístolas de Paulo (cf. I Tm 3:15,16).
4.
A maneira mais ampla de tratar do assunto da
administração da igreja harmoniza-se com referências anteriores.
5. O PROBLEMA DA AUTORIA
Ao se tratar do
problema teológico e histórico das Epístolas Pastorais estaremos
consequentemente tratando do problema da autoria, pois dois tópicos estão
“inextrincavelmente entrelaçados com a questão da autoria ou não das epístolas
de Paulo.”.
O problema quanto à
autoria é estabelecido, ou seja, se as Pastorais foram escritas por Paulo ou
outro autor em um período posterior a Paulo. “A ortodoxia crítica contemporânea
insiste em que as epístolas pastorais foram todas elas escritas por outra
pessoa que não Paulo e numa data consideravelmente posterior à do apóstolo”.
6. OS ARGUMENTOS CONTRÁRIOS À AUTORIA PAULINA DAS EPÍSTOLAS PASTORAIS.
Todos os eruditos
concordam ao menos acerca do ponto que essas três epístolas formam um grupo
distintivo, visto terem o mesmo estilo, o mesmo vocabulário geral, os mesmos
temas e os mesmos propósitos – procederam da mesma pena, portanto. Assim sendo,
o problema da autoria se aplica a todas essas três epístolas ao mesmo tempo,
sendo a questão assim examinada abaixo.
1.
No tocante ao vocabulário, as três epístolas são muito
semelhantes entre si, mas inteiramente diferentes das outras dez epístolas, as
quais são tradicionalmente atribuídas a Paulo, a saber, Romanos, I e II
Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, I e II Tessalonicenses e
Filemon.
2.
O estilo das Pastorais denuncia sua origem forjada. Em
um assunto os críticos estão de acordo, a saber, na afirmação de que o estilo
das Pastorais aponta para a direção oposta a Paulo. Mais assim que se formula a
pergunta: “por quê?”, as respostas se dividem e se tornam contraditórias,
afirmando alguns que o estilo propriamente dito de forma alguma é paulino;
outros, que em muitos pontos ele faz lembrar Paulo, que teria de ser um
falsificador, um imitador consciente. Teria de ter uma cópia das epístolas
genuínas de Paulo diante dos olhos. Dessas cópias, teria copiado uma e outra
frase, agindo como se fosse Paulo!
3.
A teologia não é de Paulo. A cruz já não é mais o
centro.Há uma ênfase indevida nas boas obras.
4.
As Pastorais atacam o gnoticismo do 2º. Século,
especialmente o marcianismo. Ora, Marcião foi expulso da igreja de Roma no ano
144 d.C. Portanto, as Pastorais certamente foram escritas por volta dessa data,
ou seja, não antes do segundo quarto do 2º. Século. Isto demonstra que Paulo
não poderia ter sido seu autor.
5.
As Pastorais revelam um marcante progresso na
organização eclesiástica, muito mais que no tempo de Paulo. Em seu tempo, ainda
não existia um ministério oficial. Em contrapartida, no tempo em que as
Pastorais foram escritas havia uma organização bem mais complexa, com oficiais
assalariados, cujas qualificações haviam se tornado padronizadas.
6.
Posto que Paulo não foi libertado de sua primeira e
única prisão em Roma, mas que foi morto, e posto que o livro de Atos, que narra
a história de sua vida desde que perseguia a Igreja até o final de sua prisão,
não deixa lugar para as viagens que estão implícitas nas Pastorais, não é
possível que Paulo tenha escrito essas epístolas.
CONCLUSÃO
Uma típica refutação
aos argumentos contrários à autoria paulina das Epístolas Pastorais: com base
nas dificuldades, com a confirmação da autoria paulina. Trata-se do que disse
A.T.Robertson, a fim de que o leitor possa ter exemplo dos tipos de argumentos
que são expostos pelos intérpretes a fim de apoiar a autoria paulina dessas
epístolas:
“É mister discutir questões introdutórias atinentes a essas
três epístolas porque elas são comuns a todas elas. É verdade que alguns
eruditos modernos admitem como paulinas as passagens pessoais, em II Tm. 1:15-18 e 4:9-22,ao mesmo tempo que negam a genuinidade
do resto. Mas essa crítica cai por seu próprio peso, porquanto precisamente as
mesmas características de estilo aparecem tanto nessas passagens admitidas como
no resto; e nenhuma razão terrena pode ser apresentada que explique por que
Paulo teria escrito meros trechos esparsos, ou que explique a omissão de outras
porções e a preservação dessas porções por forjador do século da era cristã”.
Concluo dizendo que mesmo
tendo argumentos contrários à autoria as Epístolas Pastorais, elas permanecessem
sendo, na substância, no espírito e na ocasião, a obra do Apóstolo Paulo; e o
cristão está justificado em supor que entesouram sua mensagem autêntica.
Referências Bibliográficas
HENDRIKSEN, William. 1 Timóteo, 2 Timóteo e Tito. São Paulo: Cultura Cristã. 2001.
Kelly, John N.D.. I e II Timóteo e Tito: Introdução e Comentário. São Paulo: 1983. Vida
Nova.
Portal Professor Marcos Alexandre. http://www.icegob.com.br/marcos/Fp_a_2tm.pdf
Acessado em 29/03/2007.
Ph.D.,R.N.Champlin. O novo testamento interpretado: Versículo por versículo. São Paulo:
Candeia. 1995.
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